domingo, abril 20, 2008

28 Dezembro de 2004

Toma lá Morfex e não digas que não dormes!

06h30m - Pois é! Estou acordado e tenho uma enorme consciência das minhas olheiras. O meu estado de exaustão começa a desesperar-me. Tenho mesmo de dormir mais qualquer coisa.
Já estou com o caralho do livro pelos cabelos!
Nem tinha tomado notas disto. Como acordei, resolvo ir ao armário dos medicamentos, porque já não tenho kainever. Descobri Morfex, Lorenin e Castilium.
Basicamente, são benzodiazepinas. Já sei o que a casa gasta, de outros esgotamentos. De “bombas” tomadas por causa de ruídos de obras a partir paredes, de chatices das grandes, desde perca de emprego a desilusões amorosas.

08h8m - Já tomei um Morfex e estou a escrever o diário no meu bloco.
O Morfex é jogador da categoria fármaco-terapêutica dos hipnóticos. Isso também a Valentina, por isso é que eu gostava de dormir com ela, para tratar as minhas insónias. Isto é piada, mas corresponde aos meus anseios utópicos. E não estou só a falar de sexo. Era mesmo dormir/dormir. Mas como não ando a dormir, sei que é impossível.

(Viram como ainda mantenho o sentido de humor?)

Um comprimido de 30 mg de Morfex (o meu é de 15) contém 27,6 mg de monocloridrato de flurazepan e as cápsulas possuem corantes E104, E127,E171 e E172, além de outros excipientes. Não contêm “Eh! touro lindo!”. As smarties também têm corantes, mas não pertencem ao grupo das benzodiazepinas.
Ponho-me a ler os papelinhos todos dos medicamentos e noto que o Castilium pode causar reacções paradoxais, especialmente nos idosos e nas crianças. Olhem só o cardápio: “inquietação, perturbação do sono, irritabilidade, estados agudos de agitação, agressividade, delírio, explosões de raiva, pesadelos, alucinações, reacções psicóticas, tendências suicidas ou espasmos musculares frequentes. Em caso de tais reacções, o tratamento com Castilium deve ser interrompido”.
Por acaso, eu sinto quase tudo isto por causa do Escritorium por cima de mim, a “pastilha” com que levo diariamente. Só não tenho tendências suicidas, substituídas pelas homicidas. E os espasmos musculares frequentes acontecem-me quando me ponho a nadar à bruta no final da hidro. Chamam-se cãimbras.
O Afonso Henriques é que não andava a dormir em serviço e fartou-se de tomar Castiliuns em Portugal. Numa rua de Lisboa, há tantas pessoas dependentes deste medicamento que a via se chama Rua Castilium, ali ao Marquês de Pombal.
Bom, vou ver se isto (o Morfex) faz mesmo efeito. São 8 e 20. Vou meter os tampões nos ouvidos e tentar dormir. Agora estou calmo. A gente vai-se habituando às cenas. Olha, que se foda!
Oh! Se eu dormisse em condições, o escritor que não seria!
O Mário de Carvalho também ficou com perturbações no sono por causa das torturas da Pide. E se a ironia é cultivada pelos dois, eu sei muito bem que ele é mais escritor a dormir que eu acordado. O que não me chateia nada. O que me chateia é ver um livro como “Fantasia para dois coronéis e uma piscina” a não passar a barreira dos 30 mil exemplares vendidos e uma Margarida Rebelo Pinto em baixo de forma a vender 40 mil.
Digam lá se não é de um gajo ficar à toa, ir ao Photus desesperado e gastar 124 euros em Private Dance tripla?