domingo, janeiro 27, 2008

15 de Dezembro de 2004

Eu, o 69, a Tackifire Special, os Evangelhos,
o carro roubado e abandonado, os private do “Nocturno 76” a 40 euros, a puta que me acha giro, os putos do MRPP a pintar paredes e mais o diabo a sete.


16 horas - Saio da cama. Ontem tomei dois kainever para dormir. Estava nos limites do esgotamento. Não conseguia escrever uma linha do diário. A sequência de dias com sonos trocados era esta: uma directa, uma noite em que dormi três horas, mais uma noite em que dormi duas horas e picos. Não dava para mais uma noite assim. Sentia-me exausto e fui para a cama dormir. E o problema não é adormecer, nesta fase do esgotamento. Adormeci lindamente. Mas acordei passada hora e meia. Sabia o que tinha a fazer. Hoje tinha pingue-pongue e não podia ir para lá a abanar. Tomei dois kainever e nem liguei o despertador. Tocou às 14 e 30 (estava marcado para aí, já nem me lembro porquê), saí da cama às 16 horas. Dormi bastante, mas o barulho do escritório começou logo a incomodar-me. Não quis perder tempo a tomar banho, senão falhava o lançamento do livro coordenado pelo meu camarada de noites galetianas, Sousa Machado. Tinha o cabelo todo no ar. A solução foi pôr um bocado de gel “Carpe Diem”, da Boticário, mas o meu dermatologista disse para eu não abusar do gel, que cria um micro-clima. É por isso que eu só raramente tempero o cabelo com gel. Sempre fica um clima mais temperado.

18h45m - Chego ao Centro Nacional de Cultura, mas já não consigo dar um abraço físico ao Sousa Machado, que está na mesa do lançamento do livro sobre os Evangelhos, como é óbvio. O lançamento deve ter começado a horas. Está a abarrotar de pessoas. Só consigo passar para o varandim. Passado um bocado, outro camarada das noites galetianas junta-se-me e dou-lhe um cartão de visita para ele entregar ao Sousa Machado. Só para dizer que estive presente em corpo e espírito, mas tive de me pirar para o pingue-pongue.

19h15m - Estou a subir para o Largo da Misericórdia, para apanhar um táxi. Se apanhasse no Chiado podia ficar logo engarrafado. Passo ao lado do Trindade. Zóing! Ideia: comprar bilhetes para o espectáculo do Tochas, que esgota à brava. Não está ninguém na bilheteira, tirando a senhora da bilheteira, que é uma simpatia. Compro o bilhete para sábado (7 euros, com desconto de sócio do Inatel), dia 22 de Janeiro. E já sobravam só dois bilhetes. O gajo esgota com uma facilidade impressionante. Mas o gajo é bom e já andou por aí a penar. O cabrão do chaval de Avelar (peço desculpa pelo chaval, que o man já vai nos 32 ou 33, não sei ainda quando sai este livro) merece ter êxito. Por algum motivo é popular em todo o mundo.

(Pode ser bom na cama, pode ter um ar simpático, podem ter pena dele, pode ser porque é português, pode ser porque faz bem de mimo, pode ser porque nasceu de cu virado para a lua e ter a sorte da lua não lhe ter ido ao pacote)

19h30m - Chego ao Inatel e vou equipar-me. Lavo a cabeça com água fria, para ver se atino. Ainda estou um bocado zonzo dos dois kainever. Com a conversa nos balneários e o tempo que levo a equipar-me (que é bastante, uso duas coxas elásticas e dois pés elásticos, por causa das lesões que já tive) só chego à mesa às 20.05 horas, mas eu sou apenas o terceiro a entrar em acção.
Cumprimento o meu colega de grupo que não está a jogar. Está sentado num colchão a ler “A mãe”, do russo que é o máximo.
— Isso não é um bocado forte antes de jogar?
— Por acaso é um bocado depressivo.

20h32m - Sou chamado para jogar com o Marques. Perdi sempre com ele, mas da última vez estive quase a ganhar. Cheguei a estar a vencer por 2-0 (em sets) e desperdicei match-point para 3-1, se não me falha a memória. Desta vez, está quieto, ó preto. Mudei de borrachas e a adaptação tem os seus quês. Resultado: 3/11, 3/11, 11/9 e 4/11. O terceiro set é que é o mais normalzinho entre nós. Mas se sabia perfeitamente qual o comportamento do revestimento Butterfly Tackiness Drive (na sua máxima pujança de estar novinha), ainda estava em pleno período de estudo do revestimento com que nunca tinha jogado, a Butterfly Tackifire Special de 2 milímetros, que é super-explosiva, mas mais difícil de controlar do que a minha anterior Tackifire Drive ou mesmo a Sriver S ou Sriver L. Ainda experimentei pôr uma FX noutra raqueta de 1975, mas as madeiras eram más e eu não tinha vida para aquilo. É só mais uma raqueta para andar no saco, para mostrar aos amigos:
— Olhem uma Butterfly Slazenger que me custou 275 escudos em 1975, com revestimentos de Butterfly Sriver FX preta e Butterfly Tackifire Drive vermelha.
— E jogas bem com isso?
— Não. Ia perdendo com um dos piores jogadores do Inatel. As madeiras são muito antigas e não consigo jogar bem com esta raqueta.
— Mas ainda gastaste uma pipa de massa nas borrachas, ou não?
— Pois gastei. Mas não achas que um primeiro amor (de raqueta) merece uma segunda oportunidade, nem que seja décadas depois?
— Mas essa raqueta foi o teu primeiro amor?
— Foi. Tive uns “flirts” com uma Vic verde de 75 escudos, com uma Sunflex azul de 59 escudos. Mas amor a sério foi com esta Slazenger. O Maio (Maio é o nome do gajo, não é mês, uma espécie de herói da turma e já atiradote com as miúdas, apesar dos 11 anos) tinha uma namorada igual e eu fiquei apaixonado por uma gémea da raqueta dele. Tinha cabo envernizado, com o símbolo da pantera com rabo cheio de tesão. Ou é a Puma que tem o rabo levantado? Acho que é a Slazenger...

Agora, com os dois revestimentos comprados na Patacho, mas as películas de protecção, mais duas caixas de bolas Tibhar de três estrelas e 40 milímetros, o dinheiro que gastei foi... 69 euros.
Não acreditam?
Foi, sim senhor, caralho! Ficaram de me mandar a factura.
E o bilhete para ver o “Bartoon” tinha o número 69. Foda-se, é verdade!
E ainda tenho mais um 69 na minha vida. Foi na primeira terça-feira do mês. A filha da Carla, do restaurante “Gina” (porra, é mesmo o nome do restaurante, sei lá se a D. Gina é leitora da revista, deve ser mas é por causa do nome da dona, olha que caralho) andava a vender rifas para o cabaz de Natal lá do liceu e eu escolhi a rifa 69. Porque sim. Mas os outros dois são perfeitamente casuais. E o Pedro Mexia pediu-me para lhe comprar uma revista de automóveis e eu comprei o MaxTunning número 69. Mas só depois é que vi o número. É muito 69 na minha vida.

(Anedota brejeira: um clássico. ‘Um amigo meu não gosta de 69 porque não quer nada que o distraia enquanto faz minete’.
Uma história destas, noutro livro qualquer comprometeria irremediavelmente a qualidade da obra, neste não faz diferença nenhuma)

21h30m (mais ou menos) - Vou jogar com o Lemos, a quem venci sempre. É dos tipos mais simpáticos do pingue-pongue do Inatel e isto não tem nada a ver com o facto de eu lhe ganhar. O Adelino dos CTT vê-me perder o primeiro set por 11-4 e vem saber o que se passa.
— Estou a experimentar a Tackifire, ó Adelino. Daqui a bocado meto a Tackiness Drive e ganho 3-1.

E assim foi, mas com parciais muito equilibrados. O Lemos já tem dado dissabores a tipos que me ganham. O pingue-pongue é muito giro. O meu amigo Jorge Roxo é mais jogador que eu, mas eu posso até aviá-lo grandemente num dia mau do rapaz. Este ano ele vai ficar uns 20 lugares à minha frente, o ano passado foi o contrário.

23h15m - Estou a acabar de me vestir, já depois do banho, nas calmas. É a primeira vez que fico sozinho nos balneários do Inatel, depois dos jogos. Isto é que é qualidade de vida, melhor do que no Holmes Place. O vapor já se dissipou, o espaço todo só para mim, um consolador silêncio, todo o tempo do mundo para me vestir e tomar banho.
Mas... estão tipos lá fora! Queres ver que são os empregados a controlar-me? Mas porquê? Ainda faltam 15 minutos para o horário de fecho!
Olha, são dois tipos de bidão exterminador em punho, que vêm dar caça às baratas. Em 15 anos de Inatel, ainda não tinha levado com um número destes. Quando o Paiva (da Marconi), me disse “Vê lá se te despachas no duche, que vai haver desinfestação de baratas” pensei que era no gozo.

O Paiva (da Marconi) é um ganda bacano. Tal como o Caetano (da Marconi), que é o famoso Marconi Caetano que entra no conto “A mansão das mil folias” do livro “Neura 2004”. Desta vez o Marconi Caetano chegou ao Inatel ligeiramente tocado, para me substituir de bêbedo de dia. O Balseiro (da Marconi) também é um ganda bacano. Na Marconi são todos bacanos. E ganharam-me sempre sem espinhas. Estão a ver como tenho “fair-play”?
Uma vez, no campeonato por equipas (o Carlos ainda jogava comigo e com o Roxo), o Paiva chegou ao Inatel e disse-me:
— Vá, menino, vamos lá embora a despachar isto que o Sporting dá na televisão e eu quero ver!
Eu ri-me. Ora bolas, o jogo era dali a 45 minutos. Certo que nós íamos perder, mas também não convinha exagerar o tempo da derrota. O Carlos, que jogava mais que eu e o Jorge e era o depressivo-defensivo da equipa (eu e o Jorge ainda hoje somos maníaco-ofensivos), costumava dar luta ao pessoal quase todo.
Pois é.
Perdemos 5-0 num ápice. E os tipos da Marconi ainda davam umas bolas de amizade, para nós fazermos 11 pontos e não levarmos capote. Na altura os jogos eram até aos 21, com bolas de 38 milímetros. Quem não sabia fica agora a saber que as bolas aumentaram para 40 milímetros (faz diferença, podem ter a certeza) e os sets vão só até aos 11. Mas joga-se à melhor de cinco sets, em vez de três sets.

(Está? Luís Graça? É o editor. Como vai, está bom? Olhe, é para lhe dizer que o livro deve escorrer sexo. Não perca tempo com pingue-pongues. Depois o livro fica grande e o senhor queixa-se quando não lhe editamos as obras. O quê? Se entrar o pingue-pongue do Inatel são mais 200 potenciais compradores? Mas o senhor garante-me isso? Ah! o Caetano da Marconi comprou o Neura-2004 só por entrar nele... e o Damásio Caeiro anda na Faculdade de Letras e interessa-se... e um dos árbitros anda sempre na Feira do Livro e nas Livrarias... e outro árbitro até queria ‘As mulheres não gostam de foder’ do Alvarez Rabo, autogafado... bem, sendo assim, o senhor não encara a hipótese de fazer um segundo volume versando o sexo no ténis de mesa do Inatel? Não há, que o senhor saiba... que pena... mas tanto homem nu no balneário... nunca se apercebeu de nada... que pena... sim, às vezes tratam-se por ‘ó paneleiro’, mas é na brincadeira... que pena...)

RED ALERT: O COMPUTADOR INFORMA QUE O LIVRO VAI NOS 300 MIL CARACTERES, MARCA RAZOÁVEL PARA VENDER UM LIVRO.

Ai, ai, ai... e agora, o que faço?
Bem, vou saltar uns dias. Só posso. E resumir ao máximo. Ainda me faltava fazer tanta coisa interessante. E tenho o “shower dance” de dia 23, não fui ao “Avião”, ainda não falei dos filmes porno do Frota (tenho cinco revistas só com a intrigalhada à volta dele, já com sublinhados), sei lá, tanta coisa...
Vou tentar não passar dos 320 mil caracteres...

(Dick Hard — Ó meu, nem em sonhos...
Luís Graça — Pronto, está bem... 350 mil.
Dick Hard — Vão-te obrigar a cortar, na editora.
Luís Graça — Cortam mas é o caralho!
Dick Hard — Desde que seja o teu, que até é minorquinha!)

01h20m - Ando à volta da Gulbenkian, a desmoer o jantar. A polícia está parada com um reboque, ao pé do monumento ao Azeredo Perdigão. Está lá abandonado um carro roubado. O assaltante ia sendo apanhado. Fugiu a pé.

02h10m - Páro de dar voltas à Gulbenkian. Toco à campainha do “Nocturno 76” e pergunto se há réveillon planeado. O porteiro não sabe. Mas sabe o preço da private dance (40 euros). Agradeço e bazo.

02h15m - Vou contar putas ao Técnico. Primeira volta: 16-1, ganham as pedestres em relação às auto-putas, obviamente. Segunda volta: 18-1. Uma loja de automóveis na Rovisco Pais tem dois Jaguares fabulosos na montra. Um branco e um preto. Um pouco acima, a preta que me disse “Eu trabalho” (ver princípio do livro) continua com um aspecto que ninguém diria de puta. Está escondida nas sombras de uma entrada para garagem.
Pouco depois apanho um diálogo giro na esquina. Não sei o que motivou uma frase, mas uma puta branca diz que os clientes de uma carrinha branca grande:
— Na pensão também há WC...
(Qualquer coisa que não percebi)
— Em cima do bidé...

Esta puta é bem disposta e deve achar-me giro e educado. Conhece-me de vista e sabe que não sou potencial cliente. Mas tem pena. A avaliar pela frase que ouço dizer às duas colegas, enquanto me afasto, já na segunda volta:
— Ainda o mando parar e digo: ‘Leva-me a casa’.
Estou convencido que ela não pensou que eu ouvisse. Mas há uns meses, vinha eu do kick-boxing com o Gastão Salvado, já tinha mandado umas bocas simpáticas, a atirar o barro à parede. Eu e o Gastão a caminho do Galeto e lá vieram as bocas, suave e educadamente, falando dos jornais que eu trazia debaixo do braço, salvo erro o ‘Record’. E o Gastão:
— Ó Luís, acho que elas estão a meter-se connosco...
Pois estavam. Mas eu e o Gastão fomos para o Galeto meter... qualquer coisa no bucho, depois da porrada. Apesar de tanto eu como o Gastão gostarmos de comida, porrada e sexo. O Gastão gosta mais de comida. Eu é de sexo. Porrada só gostamos de ver, sem praticar.

02.25m - Na parede do Técnico estão a pintar um mural. O símbolo com a foice, o martelo e a estrela já lá estão. Três chavais dos seus 20 anos dedicam-se à tarefa. O que pinta está em cima do capot do automóvel do amigo. Já leio: “O Gov...”.
Vou-me aos putos e pergunto:
— Bem, já que estão na primeira demão, dêem-me lá a frase em primeira mão!
— “O governo já está. Faltam as propinas”.
— Obrigado. Olhem, o Garcia Pereira foi meu professor na Faculdade. Boa noite.
— Boa noite.

05h08 - É a hora actual. Vou imprimir estas folhas, guardar na diskette, um pulinho ao hotmail, a ver se há mensagens, abrir as cartas do dia (tenho carta da minha amiga Dolores, que me chama pen-friend), espreitar os jornais e... dormir? Espero que sim. E sem bombas. Caso contrário... ou é mais uma directa de esgotamento/insónia ou lá vai bomba.
E estou-me a poupar. Ainda nem escrevi no diário o concerto dos 20 anos dos Ena Pá, que já foi no dia 30 de Novembro.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

13 de Dezembro de 2004

O diabinho vibrou durante horas
e eu fiquei prisioneiro do Inatel


18 horas - Pontualmente, ocupo o meu lugar no bar da Assírio e Alvim, no King Triplex, para a sessão de autógrafos e declamação do “De boas erecções está o Inferno cheio”. Desta feita, envergo a camisola de hóquei sobre o gelo dos Calgary Flames (de um vermelho-vivo), tenho pendurados ao pescoço dois bonequinhos de peluche (um ursinho e um porquinho), uso óculos escuros e fumo cigarrilhas e pequenos charutos da Henri Wintermans (Half Corona). O Luís Graça não é fumador, mas o Dick Hard gosta de fumaças. Eu estou no King como Dick Hard. Tenho um ar arrogante, de gajo importante, provocador, visto de longe. Depois, se o leitor se dirige a mim, sou um gajo simpático, que pergunta logo se o fumo incomoda. Tenho à minha frente duas mesas cheias de poemas espalhados, um casal de porquinhos a copular (bonequinhos, bem entendido) e um vibrador verde com um preservativo/diabinho enfiado nele, a girar. Girou durante toda a sessão, desde as 18 horas até às 21 e 30. Ninguém ligou nenhuma. Talvez tenha mesmo havido quem não se tenha apercebido de que aquilo era um vibrador.
Um rapaz levou um marcador do Neura-2004. “Por uma questão utilitária”, confessou. Dá sempre jeito marcar as páginas de um livro, para saber onde se está.
Recebi a visita de alguns amigos e conheci uma fã bem recente, a Ana, irmã da Cristina, uma colega da hidroginástica.

21 e 55 - Chego ao Inatel para a primeira jornada da segunda fase de ténis de mesa. Tenho o árbitro à minha espera nos balneários.
“Então?”.
Então, o quê? Ainda faltavam 20 minutos em relação à hora marcada para o início do encontro. Perdi os dois jogos, embora tivessem sido equilibrados.

(Não é para me desculpar, mas estava tocado das quatro ou cinco Guiness que bebi no bar do King. E já não comia desde o almoço. Podia perfeitamente ter perdido os dois jogos, mas os 11-4 do primeiro set com o senhor Octaviano são mesmo devidos ao facto de estar a ver a bola a fazer percursos curiosos na atmosfera. E o estilo de jogo dele, todo cortado, também me embebedou. Não quero tirar méritos aos senhor Octaviano)

Os meus companheiros de grupo são pessoas com quem nunca tinha falado. O empregado do Inatel veio avisar às 23 e 15 horas que aquilo ia fechar às 23 e 30. Gostei. Já uma vez os portões tinham sido fechados com jogadores lá dentro. Por isso, ter ficado prisioneiro do Inatel não foi novidade. Pus uma cancela encostada à parede (tipo assalto a castelo medieval), subi, pousei os sacos lá em cima, puxei a cancela, encostei-a à parede do lado de fora e desci. Da outra vez tinha acontecido esta situação a cinco jogadores. Agora eu estava só. E tinha dois sacos a tiracolo (o do ténis de mesa e o dos autógrafos, que tinha para aí uns 4 quilos), mais o chapéu de chuva. Foi mais trabalhoso subir com aquilo tudo. Apesar do grande barulho que fiz com a cancela (o que é inevitável, é metal a bater contra a rede, contra a parede e a cair sobre chão de pedra), nenhum vizinho veio à janela e o homem do lixo deve ter achado que aquilo era a coisa mais natural do mundo, um gajo a “desassaltar” o Inatel.
O país está verdadeiramente bonito.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

12 de Dezembro de 2004

“A ópera do falhado” do JP Simões

Mais uma noite de insónias. Lá vou eu para a aula de hidroginástica do Holmes. Lá vou eu para o jacuzzi. Depois abalo até Almada, para um lançamento de um livro, no Forum. É “A ópera do falhado”, do JP Simões, um homem que muito aprecio pela fluência do discurso e a elegância na maneira de estar. Um subversivo sofisticado. Um excelente músico, um vocalista como deve ser.
Compro o livro para dar a um amigo, na sua data de aniversário. E acabo por regressar a Lisboa com mais dois álbuns de banda desenhada. Ia perdendo o barco de regresso por estar à espera dele no cais errado. Chego a casa a tempo de ver o Troféu dos Campeões de hóquei em campo, com a vitória da Espanha sobre a Holanda por 5-2. Masculinos. Mas há uma jogadora holandesa com um nome português (Fátima Moreira da Silva) que até tem um site e tudo. Canta, é modelo, um verdadeiro ídolo nacional.

domingo, janeiro 06, 2008

11 Dezembro de 2004

“Bartoon” (a erecção na escuridão)
‘Teatro Mínimo’ na Guilherme Cossoul

8 horas - Quando decido ir para a cama, na boa (pensava eu que os idiotas do escritório não vinham ao sábado) começa o barulho. Passo-me! Meto mais um kainever, ponho os tampões nos ouvidos e regulo o despertador para as 16 horas. Quero ver na RTP2 o Sporting de Espinho — Castelo da Maia (2-3, grande jogatana) e o VIC — Benfica, em hóquei (1-1, passou o Benfica, mas não jogou nada do outro mundo. Nem os espanhóis do vê-i-cê, como disse a “speaker” do Benfica, na primeira mão, na Luz).

19 horas - Dou 15 minutos de braçadas rápidas na piscina do Holmes e à saída flirto um bocadinho (não dá nada, mas desopila-se) com a Diana, da recepção, que me confessou ter feito parte dos Tocárufar. Na recepção dá para flirtar com o pessoal todo. É tudo miúdas giras. Os homens também são bonitos, mas o meu prisma óptimo é completamente diferente em relação a eles.
(Um dia, quem sabe, a vida dá tantas voltas...)

21h30m - Como uma sopa de alho francês no átrio do Saldanha Residence, ao pé dos cinemas. O ecrã do átrio transmite o Sporting. Já nem sofro. Deixo a mesa por breves instantes para ir falar a um amigo noutra mesa (um jornalista amante do jazz) e fico de olho no meu blusão, não vá dar-lhe vontade de ir à casa de banho com outra pessoa, por alta recreação.
Evito por duas vezes que as funcionárias de recolha de tabuleiros me levem ainda a sopa a meio, a garrafa de água, o folhado de queijo e fiambre e a maçã assada. Também não era muita coisa.

22h40m - Junto-me aos amigos da BD na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, onde eu, o Luís ‘Destravado’ e o Gastão Salvado organizámos o Filotoon, uma semana de cinema de animação à borla, entre 7 e 13 de Outubro de 2002. Sim, sem pornografia.

23h07m - Começa a peça baseada no “Bartoon”, do meu amigo Luís Afonso. Em palco estão os meus amigos Pedro Alpiarça, José Boavida, Vicente Morais e... e... e... nem consigo escrever... a Vera Fontes, uma miúda mais querida que um Ferrero Rocher arraçado de bombon de ginja, coberto com chantilly e com um travo final de Absolut Citron misturado com peppermint Get 27.
Bem, já não via a Vera há uns cinco anos, desde o “Romeu e Julieta” no palco do Trindade. Um “Romeu e Julieta” à moderna, em que a Vera aparecia toda nua. E eu chego à Guilherme Cossoul sem relacionar o apelido Fontes com a Vera toda nua de há cinco anos.
Bem, a Vera é gira, a Vera é simpática, a Vera é boa, a Vera tem uns seios de sonho...a Vera não se lembrava puto de mim. Mas já lá vamos.
O Boavida lá está atrás do balcão, a fazer de barman, o Vicente aparece a fazer de Pintas e de Militar Bronco. O Alpiarça a fazer de compadre alentejano. E todos vão bem. O problema é quando entra a Vera a fazer de Matilde, que vem toda boa. Usa um espartilho branco (vi eu nos bastidores) e um soutien tipo Jean-Paul Gaultier. E faz um papel da enjoadinha/menina da terra/sensual.

23h33m (mais ou menos) - O Luisinho começa a conspirar com o Dick Hard, vá de trocar piadinhas, o Luisinho começa a lembrar-se da Vera nua no palco do Trindade, está ali a olhar para a Vera outra vez, toda giraça...e aconteceu o inesperado. O Luisinho teve uma erecção. Não foi uma erecção máxima, que aquilo era o Teatro Mínimo. Mas foi uma vera erecção, provocada pela Vera, na escuridão. E a erecção até podia ter durado até ao final da peça, não fosse a Vera sair de cena e o Luís Graça ter dito ao Luisinho e ao Dick Hard: “Porra, pá, quando preciso de vocês é só baldas, agora que estou no teatro é isto!”.
00h15m — Bato à porta dos bastidores, de surpresa.
Boavida — Olha o Luís!
Luís Graça — Posso entrar? A Vera não está nua?
Boavida — Quase!
Luís Graça — Então eu espero e depois entro!
(Entro e dou uns bacalhaus à malta, mas estou mais interessado na Vera).
Luís Graça (para a Vera) — Olha, até já te vi nua, a fazer de Julieta!
Vera Fontes — Isso foi há uns... cinco anos...
Luís Graça --- Já vi que não te lembras de mim. Eu lembro-me muito bem de ti.

Bem, eu passo a dar opiniões sobre a peça ao Boavida e ao Alpiarça, mas a Vera vai-se despindo e tira o espartilho, que é tipo armadura medieval. Pelo espelho, numa fracção de segundo, vislumbro através do maillot branco que continua com uns seios perfeitos. E não tive coragem de ficar a olhar por mais tempo. Aí sim, era capaz de ter uma erecção à Dick Hard e partir os adereços. Ah! e continuo bastante esgotado! É só para verem, seus palhaços! Ainda há aqui 17 centímetros de homem, quando calha!

(Sim, em erecção. Queriam que fosse no estado normal, seus idiotas? Eu não faço publicidade enganosa, não me chamo Rocco Sifreddi ou John Holmes. É como no anúncio da Renault: grandes para quê? Eu nem tenho carta de penetração. Era para tirar (e meter) logo aos 18, mas a coisa foi-se arrastando e ando muito nos transportes públicos fora de hora de ponta).

00h40m - Apresento os actores ao pessoal da Tertúlia BD, que neste caso está travestido da Tertúlia dos Bedéfilos Teatrófilos. É a segunda incursão da malta no teatro, mas eu estava convencido que era estreia.

01h10m (mais ou menos) - Dou o meu cartão de visita “romântico e quarentão” à Vera e ela dá-me o telemóvel dela e o mail.Já ganhei a noite. A Vera vai-se embora e mando-lhe beijinhos de longe. É muita querida. Também deve ter defeitos, mas eu não sei nada disso nem quero saber.

02h15m - Estou no “Túnel de Santos” (não tem nada a ver com o Santana Lopes nem com um bar de putas, é mesmo um bar/restaurante que fecha às 3 da matina, ao lado do Cinearte/A Barraca), com os meus amigos António e Gastão Salvado. Como somos todos gajos normais, saem três bitoques para a mesa do canto. A TV está ligada na TVI. Bolinha vermelha no canto do ecrã. Que filme é este? Olha, o Ryan O’Neal, a Ally McGraw e o Ray Milland. É o “Love Story”.
Gastão Salvado — Bolinha vermelha porquê?
António — Também não percebo.
Luís Graça — Nem eu, já acredito em tudo. Por acaso até chorei, quando vi o filme em meados de 80, em Braga. Na TV. Foram umas férias em que os cinemas de Braga só tinham filmes porno e kung-fu. E foi assim que fui ao Cine-Teatro Circo ver a Anette Heaven pela primeira vez, num filme das 1001 Noites, que vi a Veronica Heart pela primeira vez (e não tive erecção, mas saí do cinema com as calças sujas por aquele líquidozinho pré-aviso de recepção, olha que chatice!) em “Amanda, perigo sexual”. E vi o “Fist of fury” do Bruce Lee.
E ver a pornografia em Braga foi muito giro, porque o pessoal mandava bocas em clima de grande interactividade e confraternização. Passados uns anos fui ao Sá da Bandeira, no Porto, ver “As ultrapotentes”, com a Pippi Andersson, uma modelo sueca de passerella que fez uma boquinha nos filmes porno. E que boquinha. Há uma cena em que ela está de joelhos e são cinco de volta dela. “Ó menina, desculpe, quando pudesse atender-me...”.
Depois saí do Sá da Bandeira e fui ver “A cor púrpura” do Spielberg, que por acaso era protagonizado por uma preta, a Golderg, que até tem nome judeu. Que grande confusão de narizes!

(Cyrano de Bérgerac — Chamaram?
Luís Graça — Agora já não preciso de ti. Se fosse no outro dia, no show com a húngara, no Peep Show, é que eras preciso. E ainda tinha o Juca Chaves, para o que desse e viesse...
Juca Chaves — A Yara nunca se queixou... (sic, Festival de Humor do Inatel, para aí em 1995)

03h05m - Casa. O carro do António fica estacionado em frente à minha porta, enquanto vou buscar uns cartazes de uma gala de kick-boxing para dar ao Gastão Salvado. Estava prometido. Subo e desço num ápice, ao contrário do que acontece com a minha vida sexual, que está como eu: com os fusos todos trocados.

(Podia ainda falar-vos da super-erecção involuntária do Verão de 78, que não tem nada a ver com o “Verão de 42”, que vi no Zodíaco, ao pé da Judiciária, dos travestis, das putas e do “Maybe”.
Ah! querem que conte já? Então está bem.
Eu fui parar ao hospital com uma pleurisia na Primavera/Verão de 1978. A pleura cheia de líquido. Uma pleurisia líquida. Fiz três punções, parecia um alambique de Chicago nos tempos do Al Capone.
Tinha de fazer fisioterapia. Ou seja, ginástica respiratória. Primeiro era o senhor Carvalho que me fazia os 15 minutos de pressão abdominal. E tive de aprender a respirar pelo abdómen.
Um dia apareceu uma miúda gira, de 19 anos, a Isabel, uma estagiária. Eu tinha 15. Ora bem, a malta para fazer fisioterapia está deitada nas marquesas, de barriga para cima e calças desapertadas, senão a barriga não sobe e desce.
Eu ponho-me a olhar para a Isabel, que era gira e simpática e...oops! O Luisinho fez continência com uma velocidade que até surpreendeu o campeão mundial desse ano, o Andretti, da Lotus. Reacção do Luís Graça: corou automaticamente, continuou a respirar como se não fosse nada e tentou disfarçar. Mas disfarçar o quê, senhores ouvintes? É claro que a Isabel viu, mas agiu profissionalmente.

NÃO FEZ NADA! IDIOTAS! Continuou a ginástica respiratória normalmente. E posso dizer que não me provocou absolutamente nada. Nem com o olha, nem com os movimentos do corpo, nem com o decote. Aquilo foi uma coisa que passou pela cabeça (a glande, que o resto é só para levar e trazer, dizem os entendidos) do Luisinho e o Luís Graça teve de se aguentar à bomboca.
Resumindo: quando é preciso, não há nada. Quando não é conveniente, não faltam. Vá lá entender os homens).

6h12m - Vou tentar dormir sem bombas, mas antes ainda dou uma passadela de olhos pelos jornais. O mesmo erro táctico de sempre, quando se está com esgotamentos. O que querem? Ainda sou mais viciado em jornais do que em pornografia. Haviam de ler um livro meu quando estou em forma. Isto é a jogar a 30 por cento. O último conto (cronológico) do “Neura 2004” (A mansão das mil folias) também foi escrito em pleno esgotamento. E para a revisão do “Neura 2004” fiz duas ‘directas’.
E adoro escrever. Se é para nos rebentarmos num emprego merdoso das 9 às 5, venha de lá essa escrita.

(Dedico este dia do livro a todas as miúdas queridas que passaram pela minha vida. De uma forma ou de outra. Mais de outra, que sou um menino tímido. Não acreditam? Não me conhecem).

quarta-feira, janeiro 02, 2008

10 de Dezembro de 2004

Bolo-rei para as putas e cabeças partidas!

16 horas - Toca o despertador. Acordo. Um bocado zonzo do kainever. Fico na cama até às 17 horas, a sonhar meio-acordado com gajas boas e miúdas queridas. Deixei de adormecer a pensar em guerras de bonecos e corridas de carrinhos com uns 12 anos. A partir daí é sempre a pensar em mulheres para adormecer. Adoro sonhar com mulheres. O outro sonho ideal é aquele em que me imagino a voar e penso que não é sonho. Que é verdade. Tive um espectacular: voava sobre uma praia, a grande velocidade, a meio metro do areal, numa prancha de windsurf. Mas não acertava com a prancha em ninguém. Outro sonho dos bons era aquele em que dava uns enormes saltos com uma Honda Mini-Trail (quem tem mais de 35 anos lembra-se da mini-mota), agarrava uns ramos de eucalipto e ficava com a Honda Mini-Trail presa entre as pernas. Depois deixava cair a mota “suavemente” de uma altura de uns seis ou sete metros, saltava para o solo na boa, pegava na mota e recomeçava. Bem, se fosse na realidade só tinha dado o primeiro salto.

19 horas - Estou a entrar no Clube Português de Artes e Ideias, onde “vai começar” às 18h30m o lançamento de “As não-metamorfoses”, da editora Errata. O autor, Alexandre “O grande” Andrade, é meu amigo. Aquilo tem lá muito malta do DN-JOVEM. E o grande Manel Dias, o Pai dos Pais, o maior! O Afonso Henriques do DN-JOVEM, o grande fundador, a quem deram um montante para se pôr na alheta do DN. Sim, deram-lhe um montante. Não, não é uma espada grande. Foi mesmo em euros. Pois, se fosse um montante/espada o Manel vendia na Feira da Ladra mas não dava para andar a curtir nas provas de orientação e no Coro Infantil de Santo Amaro das Beiras.

(Actualmente, no jornalismo português, existe uma enorme conspiração para despedir todos os elementos competentes e bem formados. A coisa vai bem encaminhada. Os medíocres já têm muito mais de 50 por cento de posse de bola)

22h - Jantar da malta amiga do Alexandre no “Sinal Verde”. Como estava um bocado speedado, uma miúda gira e inteligente que tem a mania que é formada em Linguística (e que estava a comer à minha frente) disse assim:
“Tu deves dormir muito bem! Tens cá um discurso!”.

Isso queria eu! Não dá para vires convencer os gajos por cima de mim, no escritório das cadeiras com rodinhas e das gajas com botas de salto alto por cima do chão que é de tacos, mas já teve carpete?

(Ó pessoal do escritório, adorava meter-vos um exército de malaguetas pelo rabo acima e depois amarrar-vos a um pinheiro em Monsanto e depois meter-vos mel nas orelhas e depois despir-vos todos e depois meter-vos compota de cereja nos órgãos sexuais e depois pôr o “Highway to Hell” dos AC/DC a tocar 24 horas sobre 24 horas. E havia de ser giro ver as formigas a circular das orelhas para os órgãos sexuais e vocês a levarem com os AC/DC. E quando pedissem clemência, eu só dizia: atão, como é, vão pôr carpete para me deixarem dormir, seus grandes filhos de um cabresto?)

24 horas - Saímos do restaurante. O grupo de amigos fracciona-se. Eu sigo com malta da BD, o Filipe Abranches e o Pedro Lopes. Era para seguirmos até ao “Estádio”, um bar (?) do Bairro Alto. Resolvo portar-me bem e venho até casa, para escrever o diário.

00h50M - Saio do Metro em Arroios. Subo. Junto ao Técnico, uma ambulância recolhe um corpo. Vou lá. Não tenho curiosidade mórbida por acidentes, mas depois da cena do estudante morto pelo toxicodependente só penso em desgraças. Felizmente é uma coisa muito menos grave. Um tipo partiu a cabeça, mas à partida está tudo OK.
Dobro a esquina. Mau! Outra ambulância? Nada disso. Era daqueles super-vans dos organismos estatais, que dão preservativos às putas e trocam seringas. Desta vez também estavam a dar bolo-rei. Não percebi se o bolo-rei também é um contraceptivo ou se há conveniência em trocar de bolo-rei com as prostitutas bolo-rei-dependentes.
A lourinha de Madrid estava uns metros à frente. A miúda é mesmo gira. Como já tinha falado com ela, meti conversa.
— Então, não queres bolo-rei?
(Sorriso)
— No, gracias.
Expliquei-lhe que aqui em Portugal o Dia de Reis já era muito murcho, nada como em Espanha. Ela disse que não fazia mal, que comia o bolo antes. Adorava ter uma prenda destas a sair-me no bolo-rei. Mas quase que aposto que me saía a fava, tipo, sei lá, uma apresentora de reality-show em crise pré-menstrual.