domingo, fevereiro 25, 2007

14 de Outubro de 2004

Futebol por linhas tortas

18h35m - Saio de casa para o lançamento do livro do meu amigo Luís Afonso (tem o mesmo nome que eu, mas eu nasci com alguns anos de avanço), que se chama “Futebol por linhas tortas”. É na Bertrand do Vasco da Gama, pelo que me meti num táxi e lá fui dar à zona da Expo-98.
Andei um bocado à nora, porque a Bertrand mudou de sítio e agora está num piso superior, com uma bela livraria. A outra não era má (até era simpática), mas tinha muito pouco espaço. Esta nova Bertrand tem um espaço muito cuidado e por isso a minha primeira impressão foi muito positiva.
Quando cheguei a coisa já estava em movimento e depois seguiram-se os autógrafos. É sempre um momento muito concorrido, no caso do Luís Afonso. Peço para me baterem um “boneco” abraçado ao Luís Afonso, que tenciono mandar ao Bernardo Sassetti, um dos génios do jazz português. O Bernardo (com quem troquei cartões de visita há pouco tempo) confundiu-me com o “verdadeiro” Luís Afonso, no final de um concerto no CCB. Por isso, vou-lhe mandar a foto, para ele descobrir as diferenças entre os dois Luís Afonsos.
Comprei dois livros. Um para mim, outro para o grande Alvarez Rabo, com uma dedicatória do Luís Afonso. Hoje telefonou-me o Rui Brito, com uma “convocatória” para dia 30, em Viseu. Eu e o Rabo vamos dar autógrafos na livraria da Polvo. Calha no segundo fim-de-semana do festival da Amadora, pelo que imagino o corre-corre que vai ser. Mas como um dos meus objectivos era estar com o Rabo, tudo bem. Se ele vier de capuz enfiado (é o mais natural) vou-me solidarizar e também enfio um barrete, ou melhor, um collant. O espírito de equipa é muito bonito.

21h15m - Estou no Holmes Place, para mais uma aula de hidroginástica. Desta feita, grande proporcionalidade entre homens e senhoras (9 contra 6, vantagem senhoras). Pela primeira vez tive de esperar um pouco para poder tomar duche. Nota-se uma grande afluência de sócios, agora que acabaram as férias. Tinham-me dito que o clube queria ter apenas uns mil sócios, mas o facto é que já vai nos 5 mil! E na Defensores de Chaves são 12 mil! Começo a sentir-me claustrofóbico. Mais grave: no meio de tantos sócios e sócias como é que a minha vida sexual não se está a ressentir positivamente?

00h - Cá estou eu a ver o “Cabaret da Coxa”, hoje com o Nuno Nodim (sexólogo) na primeira parte e o José Cid na segunda. O Pedro Ribeiro fez um comentário espectacular à letra de uma canção do José Cid. O Cid acabou por confessar que a letra não era dele.
Depois ainda espreito um bocado do “Sexo na Cidade” e do Venezuela-Equador.

domingo, fevereiro 18, 2007

13 de Outubro de 2004

Fornicanços portugueses e masturbações islandesas

20 horas - Estou no Atrium Saldanha, na Loja do Boticário, a recolher a encomenda de quatro embalagens de shampoo “Universal Colors”, maciez e brilho, tons grisalhos a brancos. Podem pensar que é uma mariquice da minha parte, mas sempre quero ver se ainda têm vontade de rir se eu vos disser que o Universal Colors contém extracto de açaí e menta, com pró-vitamina B-5. Ai agora já não gozam?
Estão roxos de inveja? Acho muito bem, porque é a cor do shampoo.

20h30m – CC Arco-Íris. Livaria. Compro o número dez da revista “Ficções”, inteiramente dedicada aos contos. Sou um militante desta revista, que já devia existir há muitos anos. Vivam os contos, como género maior da literatura.

21h15m - Estou em casa, para seguir o Portugal—Rússia, sem fé nenhuma numa vitória das cores lusas. Em Alvalade estão 25 mil almas, abaixo do esperado.
Afinal, fornicámos os russos à grande e à francesa, por 7-1, resultado que me deixa o coração embevecido de ternuras, como sportinguista. Houve grandes golos para todos os gostos, mas a verdade é que os lusitanos tiveram a sorte do jogo. O primeiro golo é precedido de fora-de-jogo e depois os ventos sopraram a nosso favor. Parece que todas as que lá iam entravam. Até o golo russo é bonito.

23h30m - Saio de casa, rumo ao Quarteto, para ver um filme que me escapou no festival “Indie 2004”. Como me tenho dado bem com o cinema nórdico, quis ver o “Nói, o Albino”, do nosso amigo Dagur Kári.
Na zona do Campo Pequeno começo a cruzar-me com malta que vem de Alvalade, de cachecóis e bandeirinhas. Desta feita, apesar dos 7-1, não se ouvem os carros a apitar e não há manifestações de histerismo e atrasadice mental, como durante o Europeu. Ainda bem. Todos os adeptos com quem me cruzei tinham um ar normalíssimo. Constato que havia muitas miúdas entre os adeptos, tipificados, pela amostra, nos seguintes espécimes: grupos de amigos na casa dos 20/30 (machos); grupos de amigos na casa dos 18/24 (machos e fêmeas); famílias (pais com filhos, machos e fêmeas).

23h55m - Chego ao Quarteto e compro um bilhete. Recebo duas senhazinhas diferentes do habitual. Agora são assim a modos que talãozinho: Castello Lopes-Cinemas. Socorama, S.A. Nói, o Albino. Sala 2, 00.00h. Sem lugar marcado. Preço: 4.50 Euros. Normal.
Quando começa o filme estou sozinho na sala. Depois entram uma menina e um menino. Não há trailers e começamos logo a levar com o gelo e a neve daquele fiorde islandês. Saco um panfleto de propaganda que diz assim:
“Será que ele é o tolinho da aldeia ou um génio disfarçado? Nói, 17 anos, desliza pela vida num fiorde remoto no norte da Islândia. Sonha em fugir desta prisão de muralhas brancas, com Íris, uma rapariga da cidade que trabalha na bomba de gasolina local. Mas apenas um desastre natural poderá arruinar o seu universo e oferecer-lhe uma janela para um mundo melhor”.
Mais abaixo, o panfleto fornece-nos o que, no Propedêutico, chamavam uma dádiva cultural: a Islândia é a segunda maior ilha da Europa, depois do Reino Unido. Esta massa de terra tem 65 milhões de anos e teve origem na deriva continental.
O melhor do panfleto é mesmo um conjunto de dez frases em islandês, algumas retiradas do filme, como esta: Hvad fróar thú thér oft? Ora, para os mais estúpidos (as), sempre vale a pena traduzir: masturbas-te muitas vezes? A frase “não percebo” é muito gira em islandês: Ég skill ekki.
No DN, o E.B (Eurico de Barros) disse que se vê muito bem o filme durante meia-hora, mas depois chateia. Vi até ao final com gosto. O Luís Miguel Oliveira (PÚBLICO) considerou escapatório, dentro do género menor. Por mim, venham mais. Continuo cliente do cinema nórdico.
Ainda por cima, recuperou para a minha nostalgia coisas como o Master Mind, o Cubo de Rubik e o View-Master.

01h30m - Saio do cinema à frente do casal de amigos, que se queixam do frio, pois estão ambos de T-shirt. O termómetro da Av. Roma marca 15 graus, mas está bastante húmido. Considero-me um ser inteligente, por ter saído com blusão e écharpe.
A meio da Av. Roma (deserta) ouço música dos Beatles. Passados uns segundos identifico um morador jovem a ouvir o Rádio Clube Português, num primeiro andar. A música era o “Ticket to ride”.
Venho para casa pelo Técnico. Hoje só havia quatro auto-putas. A primeira que identifico está a falar com uma puta pedestre. Diz a auto-puta: “Ela tem uma casa arrendada em Benfica. Essa é que está bem”.
Mais acima dou com a auto-puta das válvulas desreguladas, que mudou a cor do cabelo. Nem de propósito, está a falar com um senhor que aparenta intimidade com ela. E diz ele: “É o que te digo. Se fosse a ti comprava já outro automóvel. Esses modelos têm tendência a dar problemas. E quanto mais tarde pior”.
Não percebo nada de automóveis, mas o carro até é bonito e parece novo.
No jardim da Casa da Moeda, um desalojado dorme com plástico por cima de si. Na esquina um mupi publicitário deixa-me sem fôlego. Uma menina de DIM oferece uma maçã verde roída a um pitão reticulado. Slogan: O verdadeiro jogo é o da sedução. Se não é assim, é parecido. Na Miguel Bombarda, ao pé da Embaixada do Chile, está outro mupi. Desta feita a menina é uma fenomenal morena, envolvida por uma série de homens.

02h15m - Abro a TV e ponho-me a fazer zapping, enquanto como dois brioches com fiambre. Dou com o Brasil-Colômbia, qualificação para o Mundial. Deixo-me ficar pela Sport TV, pois o jogo está interessante. Ronaldinho e Ronaldinho Gaúcho vão por ali fora, mas os colombianos aguentam o empate a zero. Há uma bola que bate na trave e entra, mas o árbitro não viu, para desespero da assistência do Estádio Rei Pelé, em Maceió. Sou muito ignorante. Não sabia que havia um estádio com esse nome em Maceió. E não reconheci ninguém na assistência, eu que até conheço tanta gente. Volta e meio dou um pulinho ao canal Holywwod, onde o Max Von Sydow e a Julie Andrews têm todo o aspecto de estar a converter almas na Polinésia.

04h10m - Ponho-me a ver as mensagens no Hotmail e tenho aquilo já a vermelho, com um aviso de estar quase no limite. É mesmo preciso apagar as mensagens todos os dias. Recebo uns mails com bonecada. Um com montagens, a propósito do tema: como seria, se o Iraque ganhasse a guerra. Outro com imagens tiradas de uma revista porno ou coisa assim. Mas é uma produção cuidadíssima. Duas meninas nuas na sauna, com língua na coisa, vibrador na coisa e beijinhos entre elas.
Agradeço ao amigo que me enviou e explico que retiro os insultos mentais que lhe prodigalizei, quando vi que tinha a caixa cheia de tretas. Logo a seguir apanho um mail mais porco, mas ainda assim interessante pela ideia: uma menina toda nua simula um parto com um bebé de plástico. Primeiro só se vê a cabeça do bebé a sair dela. À medida que vamos correndo o mail para baixo percebemos que ela conseguiu meter o bebé de plástico todo dentro dela. É artista!

domingo, fevereiro 11, 2007

11 de Outubro de 2004

A canzana de Amesterdão

Ponho o despertador para as 11 horas. Pelas 11h30m vêm-me trazer o novo colchão. Foi uma pena libertar-me do outro, que tinha apenas 22 anos de uso! Agora tenho um Molaflex Molinhas Yoga. Não sei como vai ser. Ainda não dormi nele. Não posso fazer juízos de rendimento sobre qualidade de sono, sexo ou leitura. Sim, uma cama serve para muita coisa.
Como tive de acordar “de madrugada” (já sabem que o meu fuso é outro) e só dormi umas quatro horas, resolvo aproveitar para descontrair na piscina do Holmes Place. E lá vou eu para a aula de hidroginástica das 13h15m, dada pela Carla. O corpo principal do trabalho foi feito com “aquafinn”, que são uma espécie de asinhas de morcego que se prendem aos punhos ou aos tornozelos, para aumentar a resistência à água e trabalhar os músculos. Para variar, grande presença feminina na água: 22 senhoras para três homens.
Acabou a aula e fiquei por lá a andar de um lado para o outro, dentro de água. Depois jacuzzimizei-me uns bons 20 minutos e voltei a casa. Saquei do livro de cheques e fui pagar a Caixa dos Jornalistas, como freelance. Agora querem que a malta comece a pagar via multibanco.

Almoço. Depois vou até aos jardins da Gulbenkian, ler os jornais. Capturo os maravilhosos raios de sol de um final de dia magnificamente outonal. Já estou a sair quando encontro uma dilecta amiga dos tempos do DN-JOVEM. Veio passear com a filha, de quase três anos. Pusemos a conversa em dia, apesar das queixas da Leonor, que queria mais atenção da parte da mãe. Entro na brincadeira com a menina e acabo a “meter uma cunha” à mãe, para a levar a ver “O gangue dos tubarões”, que por acaso ainda não degluti. Depois fiz de cavalinho, carregando com 16 quilos às costas até ao carro, segundo fontes bem informadas. No final, a Leonor deu-me um torrão de açúcar imaginário, tal como tínhamos negociado previamente.
Janto e dou de pinote para a minha catedral dos últimos dias, o S. Jorge. Chego bastante em cima da hora, mas ainda caibo no sector central da fila P. Lá vejo o “Podium”, de que gostei bastante.
Estreado em França em Fevereiro, este filme (adaptado do livro do realizador Yann Moix, de 2002) é uma verdadeira pérola do nacional-pirosismo-cançonetismo. Reza assim a sinopse retirada do programa da V Festa do Cinema Francês: “Nome: Bernard Fréderic. Profissão: Claude François, cantor de sucesso dos Anos 70. Sósia profissional, flanqueado pelas suas quatro coristas, a sua ambição é ganhar o concurso televisivo dos sósias. Ao lado do seu amigo Couscous, sósia do produtor musical Michel Polnareff, mergulha com deleite nesse universo fútil, correndo o risco de perder a mulher, o filho e a sua própria identidade”.
O filme tem vários méritos. Evocando a memória de Claude François (falecido a 11/3/1978), capturou o espírito do nacional-cançonetismo gaulês dos anos 60 e 70, já que Claude François começou a destacar-se ainda na primeira metade dos anos 60. Ao lado romântico do pirosismo, excelente para ser tratado em comédia, soma-se a interpretação verdadeiramente a rasgar de Benoît Poelvoorde, que foi a “isca” que me pescou para o visionamento deste filme, à mesma hora de “L’Anatomie de L’Enfer”, de Breillat, programado para o Instituto Franco-Português.
Poelvoorde continua com a mesma truculência de “Manual de Instruções para Crimes Banais”, polvilhada agora com uma versatilidade a todos os títulos notável. A sua cena com a sensual Marie Guillard (uma das meninas do coro de Poelvoorde) é digna da cena de truca-truca de “Delicatessen”. Ao som de “Si j’vais un marteau” (adaptação de Claude François de “If I had a hammer”), ele ataca canzanisticamente Marie Guillard, num dos momentos superlativos do filme, fazendo também lembrar uma canzana famosa em “O homem das estrelas”, protagonizada por Sergio Castelitto, que os protugueses viram recentemente na TV, a fazer de Enzo Ferrari.

A banda sonora é mesmo um “must” e o CD será bem comprado por quem assim o decidir. Pelo filme perpassa a memória de Joe Dassin, Johny Halliday e alguns outros monstros da canção francesa. Halliday faz mesmo um pequeno “cameo” de segundos, sem diálogo, simplesmente a atravessar o palco.
Fenomenal o dueto ao piano entre Poelvoorde e Claude François, com a ajuda da trucagem. Eu já tinha visto um bocadinho na TV5, quando o filme estreou. Prodígios da tecnologia, que também pôs o Nat King Cole a cantar em dueto com a filha, num clip.
Saio do cinema bem disposto e meto outra vez pela Rodrigues Sampaio, para subir até casa. Pouco passa das 11 da noite e à porta do clube de strip Sampayo ainda não se nota grande movimento. Continuo a subir e acabo por entrar numa sex-shop, que está deserta. Ponho-me a “folhear” os DVDs e deparo com uma enorme oferta na área da zoofilia. Penso que não será muito boa ideia falar de um destes DVDs aos leitores(as). Afinal, sou o autor do conto “O homem que sodomizava cães de raça”, que até foi desviado de título de livro para segundo conto de “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos”, da Polvo. Por outro lado, este conto foi escrito em 1994, como mero exercício de estilo. É preciso ser muito bronco(a) para não saber distinguir entre ficção e realidade.
Bem, resumindo: considero serviço público a divulgação do conteúdo de um DVD de zoofilia. E aviso já que só tinha visto um filme desta área, até ao momento, em casa de um amigo, há muitos anos. E fiquei muito abananado, depois de ter visto uma brasileira a praticar sexo oral com um cavalo. O bichinho ejaculou tipo jacto Falcon, ela engasgou-se e até parecia que tinha levado com o recuo de um canhão do tempo do Gungunhana.


1 da manhã (bem bom, ei, 2 da manhã, ei, bem bom)
Toma lá com um Dogue Alemão!

Depois de muitas hesitações (estive para trazer um DVD de meninas a sodomizar meninos, a chamada simulação masculina, também era um DVD esquisito e com pano para mangas no que toca a comentários), optei por “Danish Master Dog”, volume 14 da colecção “Animal Lovers”. DVD datado de Junho de 2002, produzido na Holanda, em Amesterdão. Depois de ver o filme continuo a gostar mais das holandesas, dos canais, do Rutger Hauer e do Ajax.

Para que ninguém perca nada destes quase 60 minutos, resolvo fazer uma espécie de “filme de jogo”, tal como acontecia na “Gazeta dos Desportos”, em que era obrigatório ter 50 linhas a descrever as jogadas, para dar uma coluna de alto a baixo do jornal.

Preâmbulo: o filme retrata um “ménage à trois” entre duas holandesas (presumivelmente) e um dinamarquês de origem (o cão, que também pode ser holandês). De resto, a situação é confusa. O Grand Danois, ou Great Dane, tem nomenclatura portuguesa como Dogue Alemão e não Dogue Dinamarquês. Como é pouco provável que tenham utilizado um cão estrangeiro, partamos do princípio de que é de raça tulipense, arraçado de dinamarquês.
O filme começa com as duas meninas a beijar-se. Uma tem um aspecto mais ordinário, outra até tem um aspecto bastante fino.O cão não está em cena.
5’31’’ - A menina mais ordinária (designemo-la por actriz B) já está numa de “fist fucking” (masturbação com a mão toda dentro da coelhinha da actriz A, a mais fina). Pormenor de salientar: retira os anéis, para não magoar a camarada de caralho. Vão-se os anéis, fiquem os dedos! A menina tem um relógio estilo swatch, que a acompanhará ao longo de toda a película. Como não se vê a marca, presumo que seja falta de lembrança em tirar o relógio. Também pode ser promessa. Ou uma agenda muito sobrecarregada, que a obrigue a controlar o tempo metodicamente.
7’03’’ - Um beijinho na perna da menina penetrada. É o toque de ternura de que o filme carecia.
7’39’’ - Actriz B agarra num vibrador cor de chocolate, com a glande em rosa, com vibração propulsionada a pilhas. Há mudança de posição, com troca de extremos. Mãozinha de Scolari? Mistério. Primeira cena de sexo oral.
8’50’’ - Primeira penetração do vibrador. O zumbido é intenso, tipo Abelha Maia no final do episódio.
10’57’’ - Percebe-se que o realizador deu uma indicação qualquer. Julgo entender “Allez!”, mas não posso garantir. O segundo vibrador (preto e doirado, talvez tenha patrocínio da John Player) entre em acção.
11’33’’ - Actriz B mete os dois vibradores na boca, enquanto actriz A lhe lambe a zona da verdade. O som dos vibradores é igual ao de uma broca de água, no dentista.
12’59’’ - Vibradores em dupla penetração.
15’45’’ - Auto-fist fucking. Não percebem?!? Ai, ai,ai…é preciso dizer tudo aos meninos e meninas. São muito atadinhos... pronto, eu explico: a menina vira-se de rabo para a câmara e mete a mãozinha dela na ratinha dela. Perceberam agora?
17’04’’ - A segunda atleta brinca com o vibrador negro e doirado. Tem o mesmo problema de Hugo Viana e Pedro Barbosa. É muito paradinha, parece adormecida.
18’57’’ - Temos um pico fonético. O som conjugado dos vibradores lembra a partida de um GP de Motonáutica, mas Nico Benavente não tem mesmo nada a ver com este filme.
20’06’’ - Cena de masturbação. Vibradores a suplentes, mas sempre com a pilha a funcionar. Certo que a Holanda é um país rico, mas este desperdício de energia devia ser condenado. O Protocolo de Quioto não abrange estas situações?
20’34’’ - O cão entra em cena, finalmente. Mas desenganem-se os que esperavam uma cena progressiva. Este filme não tem mesmo argumento nenhum. As duas meninas entraram mudas e saíram caladas. Gemeram muito mais do que o cão.
A primeira imagem do cão é já com a menina mais fina a lamber a vermelhusca sarda do Grand Danois (que não tem as orelhas cortadas, como é comum na raça). O focinho do cão não é filmado. Encaro a hipótese da preservação do anonimato, para evitar problemas com a família. Mas é hipótese que não se confirma. E apesar do DVD dizer que todos os participantes apresentam comprovativos em como têm mais de 18 anos, é evidente que o cão é menor. E a FIFA não faz nada.
23’19’’ - Quem sabe de cinema reconhece o famoso “Plano Céltico”. É um plano lateral, que apanha a menina por baixo do cão. O plano chama-se céltico porque parece que ela está por baixo de uma anta pintada de preto. O cão está desconcentrado. Vê-se que faz porno por dinheiro. Tem uma expressão caracteristicamente aparvalhada. Não nos admiraria nada que mais tarde venha a escrever uma biografia a explicar que foi obrigado.
24’10’’ - Menina mais fina sujeita-se à sarda pouco erecta do super-canídeo. A cena é de penetração/masturbação, já que é preciso agarrar a sarda do animal pelo nó e andar num vaivém contínuo. É assim estilo rebocador, porque o cão está de pé e de costas para a menina, que está deitada na cama, de perna aberta, de frente para o cão, tipo sapo. Só vendo, mas depois não digam que fui eu que mandei. A expressão da menina indica que pode mesmo estar a desfrutar da situação. Muito mais do que o cão. Isso é certo. Até porque ganha muito mais do que o cão. Uns ficam com a carne, outros roem os ossos, como sempre.
29’33’’ - Bond, James Bond, em “Tira e torna a meter”.
31’25’’ - Cão tão depressa apresenta uma expressão séria e curiosa perante a câmara como está de língua de fora. O contraste entre o preto da cabeça e o rosa da língua dá-lhe uma expressão patusca, tipo desenhos animados.
35’40’’ - Está na hora da outra menina lamber os tomates ao cão.
37’46’’ - Aqui está a verdadeira canzana! A menina vira as costas ao cão, que também continua de costas. Tem de ser a outra menina a direccionar a sarda. E a menina mais fina é que fode o cão, auto-propulsionando-se na cama king size.
41’27’’ - Menina mais ordinária dá beijinhos no cu da menina mais fina. Já estou muito cansado de ver o filme, mas quero ver se as miúdas dizem qualquer coisa. Não dá para avançar o filme à campeão. O profissionalismo tem regras. Talvez o filme não seja falado para se tornar mais universalista. Ou por motivos de marketing. Assim, pode ser compreendido em todos os países e mesmo por todos os animais, permitindo um visionamento simultâneo a donos de cães de companhia e respectivas mascotes.
44’05’’ - Regresso à primeira posição. O cão continua desinteressado. Questão ética: o cão está a ser violado? Por um lado, não parece nada atormentado com a situação, por outro é evidente que ele não quis tomar a iniciativa. Sendo assim, a participação de animais em filmes porno está ao nível das touradas, dos jardins zoológicos, dos espectáculos de circo? Questão para reflectir.
Certo é que o cão pode ser holandês mas tem feitio de cão alentejano. Mais calma do que aquilo não é possível. A minha grande dúvida existencial é: será que o cão se vem, para o filme acabar? Ou acaba mesmo sem o cão se vir? Ou seja, haverá um filme porno sem o chamado “money shot”?
46’49’’ - Segunda menina entra em acção. Pára no peito, cola na relva, penetra na área.
52’58’’ - Segunda menina muda de posição.
55’05’’ - Menina mais fina faz sexo oral ao cão.
56’17’’ - Ajuda ao número...2! (Lembram-se da Barra do Lenço?)
De repente... acaba tudo. O cão não se veio. Quem quiser saber mais, continue a seguir a série. Para mim chega. Não faço ideia de como são as outras produções. São 4 horas e 29 minutos.

domingo, fevereiro 04, 2007

10 de Outubro de 2004

No S. Jorge, com a Breillat

Deito-me mais cedo do que habitual na madrugada de sábado para domingo e não passo cartucho ao GP de F.1, transmitido às 7 da matina. Quando me levanto, como um iogurte e vou nadar um cochinho para o Holmes Place.
Depois almoço e ala para o S. Jorge, para a festa do cinema francês. Compro um bilhete para o “Podium”, do Yann Moix, com o Benoît Poelvoorde, que vi no magnificente “Manual de instruções para crimes banais”, há uns bons anos, no King Triplex.
Na banca dos livros está uma obra que me interessa: “Les films-clé du cinéma” (Claude Beylie, Larrousse). São 32 euros, mas vale a pena. Vou ao multibanco e compro. Ao dar a volta por trás do Tivoli descubro uma casa de strip onde nunca fui, o Sampayo, do mesmo patrão do Nina.
Regresso ao S. Jorge e fico a ler na varanda o “24 horas”, que tem na capa a Marisa Cruz, a dizer bem do João Pinto. Como ser humano. E a fechar-se em copas, no corpo da entrevista, por já estar escaldada.
Finalmente, chega a hora do aguardado “Sex is comedy”, da realizadora-escândalo Catherine Breillat. Estou muito curioso de a ouvir. O filme é bom, superiormente interpretado pela Anne Parillaud do meu contentamento. A Anne Parillaud que vi pela primeira vez a contracenar com o Alain Delon (numa cena de cama muito meiguinha), que depois segui como a assassina de Nikita, como vampira em Nova Iorque e sei lá mais onde. Bref: gramo da gaja bué.
O filme expõe de forma conseguida várias questões candentes do cinema: a relação entre realizador/actores, a encenação, as relações de poder. É uma ficção quase documental, com muito de autobiográfico. No final da película, Catherine Breillat ficou a falar para uns 60 espectadores. Os outros viram o filme e foram-se embora. Bastantes abandonaram o S. Jorge durante a intervenção da realizadora. Acho estranho e um grande desperdício. Não é todos os dias que se pode falar com ela.
Se o seu cinema enumera questões cruéis, ela é bastante dócil na comunicação, mas tem um discurso paradoxal. Considera-se fria e racional como realizadora, distante de tudo, mas ao mesmo tempo acha que o cinema é paixão e a paz é boa para quando estivermos mortos. Não acredita na harmonia do plateau entre actores e realizador, mas acaba por conseguir ser amiga dos seus actores, depois de ter concluído os filmes. Faz mesmo algumas analogias entre um actor e um cavalo de corrida. Acha que tem de os espicaçar para tirar o melhor deles.
No entanto, está recheada de dúvidas cada vez que vai filmar e tem dias em que pensa que não sabe nada de cinema.
Para si, mais do que o cérebro, a verdade é o corpo. Assume uma problemática interessante em relação ao macho, num dilema paixão/rejeição, num mundo que considera machista e que lhe colocou bastantes entraves no início da carreira. É peremptória quando afirma que a relação entre uma realizadora é sempre melhor com as suas actrizes.
E depois disto tudo, e de termos visto o filme, ela ainda acha que falou em abstracto e que não há nada de voluntariamente autobiogáfico. Mas eu não fico nada convencido. Choca-me a visão soturna da vida que ela tem e que aceita com um ar muito natural. Percebo, depois de a ouvir, muita da violência dos seus filmes. E fico assim a modos que.
Subo a pé pela Av.Liberdade e desemboco no Galeto para um jantar tardio. Depois perco-me na conversa com os tertulianos do costume e quando dou por mim são 3 da manhã. Ah! pois é.