domingo, janeiro 28, 2007

9 de Outubro de 2004

18 horas (casa) Liechtenstein-Portugal

Sem grande fé na qualidade do futebol praticado no Liechtenstein-Portugal, opto por tomar um duche e levo o transístor para o banho. Vou seguindo as peripécias do encontro e percebo que a equipa de todos nós também está a meter água.
A segunda parte já segui via TV e diverti-me bastante com a inépcia dos profissionais portugueses face aos amadores adversários. Portugal conseguiu a proeza de encaixar dois golos do Liechtenstein. O empate deu direito a festa nas bancadas. Deve ter falhado a invasão de uma stripper, que tinha resultado anteriormente.
Faço um intervalo no ciclo de cinema francês, mas não deixo de ver cinema em francês. Lá estou eu no Nimas, para a sessão das 22 horas, para mais um filme do Otar Iosseliani. Nas críticas do PÚBLICO não faltavam estrelas, mas eu acho que confundiram o filme com o planetário da Gulbenkian.
Gosto imenso do Iosseliani e do seu registo muito pessoal, meio de fora do filme, meio por dentro, deixando passear a câmara com subtileza, criando uma galeria de personagens caricaturais, ao mesmo tempo que vai infiltrando as suas metáforas na mente do espectador.
Desta feita, porém, o “Segunda de manhã” pareceu-me um filme já repetitivo em relação à obra anterior de Iosseliani. Os actores fazem um pastiche de si próprios, remetendo para as memórias que o espectador terá de filmes anteriores. O trabalho de câmara é sempre apurado, mas a película arrasta-se. Elegantemente, mas arrasta-se. Veneza aparece de forma muito gratuita, mas ainda assim é Veneza. Não a Veneza de “As asas da pomba” (com Dominique Sanda) ou a Veneza que se vê num James Bond. Mas Veneza é sempre Veneza.
Claro que fica o politicamente correcto das metáforas da globalização, da liberdade, da diferença, num mundo cada vez mais igual e amorfo. Mas de Iosseliani espera-se sempre mais.


01h

Uma volta ao Técnico, para apurar do efeito da chuva na frequência de putas. Reduzidas a 50 por cento, segundo as últimas contagens. Duas auto-putas e doze pedestres.

domingo, janeiro 21, 2007

8 de Outubro de 2004

Viva o Brasiu! ( Strip no Nina—Diamantes e Pérolas)

Saio de casa perto das 19 horas, a duas horas e meia do filme que quero ver no S. Jorge (Wild Side, de Sébastien Lifshitz, estreado em França a 14/4/2004, 107 minutos, drama).
Vou um bocado às escuras para o filme, na base da militância, aproveitando o privilégio de poder dialogar com o realizador a seguir à película. Chego ao S. Jorge com tempo e compro bilhetes para outras sessões.
Desço a Av. Liberdade e algumas putas clássicas já estão ao ataque ao lado da marisqueira Quebra-Mar. O louro artificial combina-se com um olhar triste e o tédio. Potenciais clientes há poucos. A Avenida está cheia de estrangeiros das mais variadas proveniências.
Vou até à FNAC do Chiado, espreitar as novidades de BD. Propositadamente, não vou à área dos CD de jazz, para não me tentar. Logo ao descer as escadas deparo com um livro da senhora austríaca que “papou” o Nobel: “Lust”, de Elfried Jelinek.
Na contracapa diz que “é um romance pornográfico que escandalizou e entusiasmou a Alemanha pela ousadia da sua narrativa: um industrial, dono de uma fábrica de papel, temeroso em relação ao sida, usa e satisfaz-se sexualmente com a mulher, como no passado se servia de prostitutas. Perante o olhar pouco tímido do filho, acontecem cenas de terrível violência e obscenidade. Tudo num palco íntimo e luxuoso de uma villa”.
Não sou de andar a comprar livros só por ser Nobel (tenho muitos Saramagos de atraso), mas aposto neste. Torço intimamente para que seja mau, de forma a legitimar a escrita deste meu livro. Como quem diz: “Vêem, se aqueles palhaços de Estocolmo dão o Nobel à autora desta obscenidade, por que motivo não posso eu escrever sobre sexo, como um pobre mortal?”.
Espreito o livro (de 1992, editorial Estampa) e vejo que é nitidamente literatura, só com um relance. Resta saber que tal está a tradução. Mas a mão de escrita é inquestionável. Compro.
Passo pelo stand dos jornais e lá vêm para o saco o Sporting, o Benfica (coisa que intriga os donos dos quiosques, um homem que compra os jornais dos dois clubes rivais como quem bebe um copo de água), o Magazine Artes e uma revista brasileira erótica, que nunca tinha visto: Sexsymbol, Setembro 2003, edição número um. Ora bem, isto é que é qualidade de vida: chega agora a Portugal o número de Setembro de 2003, com as novidades fresquinhas: Barbara Tkalec, a dublê de acção mais gostosa do Brasil, nua, incendiando as nossas páginas. Entrevista: Cazé da MTV; Invasão de privacidade: tudo o que rola no banheiro feminino; Voyeur: loura e morena “brincando” sozinhas; Sexo: 25 mulheres contam como é o homem bom de cama; Ajude-nos a eleger as 100 mulheres mais desejadas.
A revista ainda está no plástico, fechada. Primeiro tenho de escrever o diário e já são 5 e 27 da madrugada. Além disso, estou um tanto cansado e sentem-se alguns efeitos dos três Drambuie que bebi no “Nina”, tendo comido ao jantar apenas uma sopa de cação e uma salada de frutas.
Na “Loja das Sopas” fico espantado com um folheto da Fundação Portuguesa de Cardiologia, elaborando uma espécie de dez mandamentos de quem come fruta. Presumo que nas frutarias a Fundação Portuguesa de Cardiologia tenha um destacável sobre as benesses proporcionadas pelas sopas. A nível subconsciente, talvez isso me tenha levado a ir à procura de “fruta” para o “Nina”.
Esta hipótese não é nada descartável. Sendo assim, os 83 euros que gastei deviam ser debitados à Loja das Sopas e à Fundação Portuguesa de Cardiologia, já que eu é que me meti nesta coisa e a Oficina do Livro não patrocina os processos de investigação para o livro. Nem eu pedi. Já estou a imaginar o editor a rir-se.
Saio a pé da FNAC e venho a desmoer o cação rumo ao S. Jorge. Nos Restauradores, dois bombons dos seus 16 anos vêm direitas a mim. Imagino o filme: vou ser “cravado”. O olhar angustiado da meninas rapidamente me desenganou:
— O senhor desculpe, sabe-me dizer onde é o Coliseu?
— É atravessar a rua, meter por aquela que desce ao lado do cartaz dos correios e depois cortar à esquerda. Cuidado com os gatos, que arranham muito!
— Desculpe?!?
— Cuidado com os gatos, que arranham muito!
À segunda, a miúda lá percebeu a piada e riu-se. A amiga ficou a olhar, com cara de parva. Ora, duas miúdas que iam ver o “Cats” ao Coliseu e nem percebiam uma piada simples, sem ketchup ou mostarda.
Subo até ao S. Jorge. As putas clássicas continuam no mesmo sítio. Está de chuva. A esplanada da “Bela Ipanema” (ao lado do S. Jorge) está vazia, por causa das pluviosidades. No dia anterior estava a rebentar.
Entro no S. Jorge e vou direitinho ao lugar P-20. Abro a camisa até ao umbigo e socorro-me do programa para abanar. Mas estava menos gente na sala, as luzes apagaram e aquilo ficou jeitoso.
Gostei do filme. A temática da homossexualidade é tratada de forma sóbria e Sébastien tem intimidade com a câmara e sabe como contar uma história. O registo dramático não cai para a lamechice.
No final, vou ter com o Sébastien, que está a falar com o Tito Lívio. Falamos um bocadinho e ele confessa que adorou o “Noites Selvagens”, do Cyryl Collard. Perguntei-lhe se era uma referência, bem como “A noite usa ligas” (de Virginie Thévet, com que falei há uns 20 anos, no Forum Picoas, noutro ciclo de cinema francês) e “O ódio”, de Mathieu Kassovitz. Lá cavaqueamos um bocadinho, mas depois dou lugar a outras pessoas que querem falar com ele.


23h50m - No “Nina - Diamantes e Pérolas”

Entro no “Nina”. O DJ é um moço novo que deu boa conta do recado ao longo das quatro horas em que lá estive. Do raggaezinho saudável até ao “Sultans of swing”, deu para curtir.
Sento-me, tiro o casaco e peço um Drambuie. Há cerca de oito meninas de serviço. Passam uns dez minutos e sou abordado pela primeira, uma brasileira de Goiânia, meiga e boa conversadora. O empregado vem perguntar se a menina bebe alguma coisa. Suponho que sim, que os líquidos fazem muita falta. Mas eu resolvi não pagar-lhe nenhuma bebida. Ao invés, fintei o destino e disse-lhe:
— Que tal um privado, em vez da bebida?
Pois é, sem crises. Assim até dá gosto. Combinado o privado com antecedência, ficámos no paleio uns 20 minutos. A menina foi empregada de mesa, deixou um filho no Brasil e não tem muitos meses de strip.
Comecei por dizer que o meu pai nasceu em Manaus e tinha uma jibóia no sótão para comer os ratos. A menina não achou lá grande piada, até porque a conversa descambou para ratos (que lhe fazem impressão), osgas (que lhe metem um nojo danado), camaleões (eu tive um aos 12 anos, mas ela também fica stressada), seguido de outra coisa muita animada: a morte de Ayrton Senna. Percebi que a menina estava a ficar com má impressão minha e dei por findo o momento National Geographic Magazine.
Depois lá me desafiou para o privado e fomos nessa, para a sala do lado, onde ela me pediu para me situar exactamente a meio do sofá. É uma questão geométrica, não de somenos importância no encontro de corpos, de mentes e de eternidades.
E o vestido verde-alface lá foi caindo, como mandam as regras. Eu lá fiquei sem camisa (uma novidade) e deixei-me embalar naqueles olhos negros e profundos, naqueles lábios sensuais. Foi um belo provate, sem pressas, com muita comunicação.
— Está em silêncio...
— Pois, é para saborear e a deixar concentrar-se...
— É estranho, você fala tanto...
(Chamavam Rádio Graça ao meu pai, quando ele era novo; e o hobby preferido da minha mãe é o telefone, nem percebo como ainda não inventaram um modelo de telemóvel Lecas LXZ, “Fale até cair pró lado”)
— Pois é, se não houver comunicação até pode ficar meio sem graça...
— Comigo não. Comigo tem sempre Graça, obrigatoriamente.

Vou direito ao casaco e tento sacar a carteira do bolso.
A miúda pensa que lhe vou oferecer dinheiro em troca de sexo e fica toda aflita (meia sem-jeito, em brasileirês). Vejo a aflição dela, percebo a “parte gaga” (como diria o Ayres Nunes) e também fico à toa.
— Por amor de Deus! Não é o que está a pensar! Não vou tirar dinheiro da carteira. Já vai perceber a piada.
E lá saquei do cartão do CNID (Clube Nacional de Imprensa Desportiva) e mostrei o meu visível nome: LUÍS GRAÇA. Aí ela riu-se com gosto e eu senti-me recompensado.
O privado acabou, ela mudou de vestido verde para vestido preto, deixou de ter os cabelos soltos. Foi dançar. Aí é que apreciei o seu corpo com mais nitidez. Provérbio chinês aplicável à situação: “Se estiveres muito próximo da árvore, podes não conseguir ver a floresta”.
Perto da uma da manhã pedi o segundo Drambuie.
Fui observando meninas atrás de menina e depois veio outra brasileira sentar-se ao meu lado. Desta feita, era uma menina do Ceará, que estava em Portugal há muito pouco tempo e se estreava no strip naquela noite. Ainda nem tinha feito nenhum private.
— É consigo que vou fazer o primeiro?
— Por acaso não, por motivos rigorosamente orçamentais. Só por isso. É muito bela, tem elegância e sedução.
— Obrigada. Ainda tenho as mãos geladas. Estou tão nervosa. Vai-me ver dançar outra vez?
Prometi que sim. Temos de apoiar as jovens promessas da modalidade e o sector da formação. A menina deixou dois filhos no Brasil, trabalhou como Relações Públicas numa discoteca e antes de chegar a Portugal esteve numa pequena localidade da Galiza. Chegou a vender pratas na praia de Fortaleza. Imagino aquela beleza, de bikini, a vender pratas areia fora.
Quando ela vai dançar, uma checa muito simpática e divertida, há três anos em Portugal, dá-lhe instruções técnicas, como num combate de pugilismo. A Mónica dos cabelos negros e dos olhos azuis não é uma Praga para a novata. É um porto de abrigo. Fuma um cigarro nervosamente e aplaude com emoção quando a camarada brasileira acaba. A assistência aplaudiu com pouca emoção e ela fez-lhes um sinal, como quem diz: “Ó seus palhaços, não apoiaram a miúda como deve ser e ela está a começar. Isso são termos de estar num clube de strip?”.

Tentei falar inglês com a checa e ela para mim:
— Não é português?
— Sou.
— Então fale português. O meu inglês é pior do que o meu português.
Lá falámos. E depois a Mónica ainda brincou comigo, fazendo-me sinal, de longe, para me calar, quando o DJ mandou brasa com “Ladies and gentlemen, welcome to the jungle”.
Deixei a Mónica a fazer o balanço com a menina brasileira (“Olha, a Mónica está a dançar, só faltam o Cebolinha e o Cascão”, disse eu para a menina brasileira, a páginas tantas), paguei, vesti o casaco e fiz-me à noite.
Quando passei pela “Brasileira”, o sôr Fernando mandou-me uma boca:
— Atão, man, o meu livro?
— Sôr Fernando, já escrevi 15 contos humorísticos sobre o senhor e os seus heterónimos. Está tudo a ser analisado pela editora.
— Bem, vamos lá a ver isso. Já ouvi dizer bem dos contos. Em último caso, se ninguém editar, passa por cá, tomas um bagaço comigo e depois eu guardo o material na arca.
Ficámos assim.
Dei uma esmola de um euro na Rua do Carmo (3h45m), vi um bêbedo a dormir deitado no chão (3h50m), dois homens do lixo a mandar piadas a um casal gay que ultrapassei sem dificuldades (“Ai elas! Malucas!”), depois levei com uma chuvada que até andei de roda, já perto de casa. Mas estava prevenido com um chapéu-de-chuva. Hoje senti o Outono. Cheguei a casa, desmolhei-me, fiquei de calções Butterly (do pingue-pongue) e T-shirt do Fernando Pessoa, bebi um chá, comi uma banana, comi uma maçã e meti-me ao trabalho.
São 6 horas e 16 minutos e nada de novo a assinalar na Frente Ocidental.
Estou cansado, mas feliz. Convém agradecer a Deus esta facilidade de escrever.

domingo, janeiro 14, 2007

7 de Outubro de 2004

18 e 30 horas - Mãe D’Água

Estou com uma amiga num espaço belíssimo: a Mãe D’Água, no Jardim das Amoreiras. Assisto a um concerto do “Trio luminar” (harpa, violino, flauta transversal). É pena a acústica não ser a melhor. O som bate nas abóbadas e provoca ecos. Mesmo assim, usufruo de uma hora de boa música.
Saio com a minha amiga em passo acelerado. Espera-nos outra iniciativa cultural: a abertura do ciclo de cinema francês, no S. Jorge, pelas 21 horas. O filme foi uma agradabilíssima descoberta da realizadora Noémie Lvovsky (“Les sentiments”). Mais uma interpretação superlativa do actor Jean-Pierre Bacri, que já tinha mostrado o que vale em “O gosto dos outros”. Nathalie Baye (tão longe da prostituta atrevida de “La balance”, que vi todo repimpado no defunto Star, na Guerra Junqueiro) é também uma grande senhora do cinema francês. Melvil Poupaud, que esteve presente no S. Jorge, também vai bem, assim como a actriz que faz de sua mulher. Falha-me o nome, mas será uma das certezas do cinema gaulês, por certo. A realizadora soube temperar o registo cómico com o registo dramático e conseguiu um bom filme.
O ar condicionado continua K.O (as obras do S. Jorge são em Dezembro e há que aguentar pelo amor ao cinema) e toda a sala maior é um festival de leques e de pessoas a abanar-se. Como se entrou na sala pelas 21 horas (havia a abertura oficial, com homenagem a Isabel Ruth) e se saiu pelas 00h15m, podem calcular...

Assim é que se vê quais são os verdadeiros adeptos de cinema, dispostos a sofer por ele.
Findo o filme, vou até ao Pabe com a minha amiga. Verifico, com surpresa, que agora fecha às 24 horas. Fazemos marcha-atrás e bebemos um copo no Cup and Cino da Alexandre Herculano.
Depois sigo até ao Galeto, onde como duas tostas mistas e bebo um chá de tília. Por trás de mim, no outro balcão, está o toureiro Pedrito de Portugal, a levar uma grande seca de um admirador “espontâneo”, que se sentou na cadeira do lado.
Passa-me um bocado ao lado toda a polémica com o professor Marcelo. Percebo, todavia, que é o tema da moda, a par da Quinta das Celebridades. Continuo quase “virgem” no que toca à Quinta das Celebridades. Só vi uns dez minutos no dia da estreia.

domingo, janeiro 07, 2007

6 de Outubro de 2004

António José de Almeida, 24 Dr. Sousa Martins, 0
(número de putas de serviço ao Técnico e ao Campo Santana)


15 horas

Saio da cama. Tenho de ter cuidado com a hora do almoço, já que pretendo fazer a aula de hidroginástica das 18 e 45 horas. Convém ter a digestão feita.
Vou aos correios da Av. João XXI, colocar um envelope em correio azul. Lá dentro vão currículos meus e três poemas inéditos para a Universitária Editora. A ideia é fazer duas antologias, uma de homenagem ao Machado de Assis (Maio) e outra de homenagem ao Pablo Neruda. Li a carta do meu amigo Cristino Cortes com velocidade a mais e só fixei a palavra “inéditos”. É provável que os meus poemas sejam “desclassificados”, por não aflorarem Machado de Assis ou Pablo Neruda. Se isso acontecer, é muito bem feito. Acho bem que não abram excepções a quem não cumpre as regras.
O Gonçalo Salvado convidou-me para escrever um poema sobre o “Cântico dos Cânticos” (para outra antologia poética) e aí vou ter mesmo de estudar, para enviar um poema a sério até ao final de Outubro.
A estação dos CTT está cheia de balões verdes, a promover o novo correio verde. Ao lado, toda a quinquilharia do meu amigo Kinas está ainda bem visível, vários meses depois do Europeu. Há ainda um jovem muito educado a “cravar” pessoas para apoiar um projecto de benemerência que envolve os guarda-redes Vítor Baía, Moreira e Nélson.
Os correios lembram uma mistura entre Loja dos 300 e Feira do Relógio. Lá meto o meu envelope em correio azul e saio ao de leve, atrás de uma miúda gira que não me ligou pevides, para variar.
Próxima paragem: Apolo 70. Há que tirar várias fotocópias à notícia do DN, em que aparece um Manuel Rosa Dias persignado, a cumprimentar o Dr. Jorge Sampaio, por ocasião da investidura da comenda da Ordem de Mérito. O artigo recolhe opiniões de malta do DN-Jovem, entre os quais Pedro Mexia, José Mário Silva e José Luís Peixoto. Rapaziada da fornada dez anos abaixo de mim.
A loja de animais do Apolo 70 apresenta nas suas vitrinas com vista para a escada um par de gatos e um par de cachorrinhos. Os gatos são persas, os cães não tinham a raça escrita nos vidros, que me lembre. Meto o dedo dentro da montra. Os dois persas atiram-se ao meu dedo como gato a bofe. O que vale é que quase não têm unhas. Os cãezinhos também se atiram ao meu dedo movediço, na vitrina ao lado, mas estão a dar cambalhotas involuntárias para trás e tenho medo que se magoem.
Vou tirar as fotocópias e tenho sorte. Despacho-me rapidamente.
Na saída, os gatos persas (a 450 euros o macho) estão filosoficamente deitados, em pose aristocrática. Os cachorrinhos estão em animada peleja, indiferentes ao pouco espaço de que dispõem. Arranjaram maneira de adaptar o jogo da corda. Cada um puxa pelo mesmo bocado de ráfia. Estão muito animados.
Vou ao clube de vídeo Big (na João XXI) ver o que há de novidades. Não alugo nada. À saída, estão dois jovens sentados num banco em frente. O dia está radioso (outro dia de Verão) e um deles desabafa:
— Foda-se! Que calorão! Estou farto de calor! Venha a puta da chuva!
Não consigo dizer o mesmo, apesar do calor me incomodar um bocado. Mas esta luminosidade mediterrânica é uma bênção para a alma.
Vou direito à Gulbenkian. Ao pé da Universidade Nova, antes de atravessar direito ao monumento de homenagem a Azeredo Perdião (já nos jardins da Gulbenkian) reparo nos relógios/termómetro. Um marca 30 graus e 17 horas e 26 minutos. Outro marca 27 graus e tem oito minutos de diferença.
Chego ao anfiteatro da Gulbenkian e não me caíram os tomatinhos porque não calhou. Levo 20 anos de anfiteatro e nunca tinha deparado com tal cena: uma chavalinha dos seus 18 anos, look radicalmente jovem (ténis tipo bota de pugilista, em vermelho-vivo, T-shirt de alças rosa, cabelos pretos com um totó apanhado ao lado) está a fazer tricot!
Leio A BOLA e o PÚBLICO. Passo pelo Holmes Place a recolher a senha da hidroginástica. Vou a casa buscar o equipamento e ala que se faz tarde. Entro na água perto do início. A aula teve perto de 15 pessoas, com 4 homens. Trabalhámos com esparguetes e foi uma sessão puxada e divertida. Passou o tema musical da “Fama”, já perto do final.
Regresso a casa para jantar.
Finda a refeição, decido-me por um passeio até ao Campo Santana, para observar que tal vai aquilo de putas. É preciso peregrinar por várias zonas de putas, não nos cingindo comodamente ao Técnico. O leitor(a) deve ter uma perspectica abrangente do fenómeno.
Cruzo-me com a primeira senhora na paragem em frente à Academia Militar. Não me apetece abordá-la, apesar de minha missão implicar uma auscultação dos preços de mercado. Pensei: “Vou começar mais à frente”.
Pelas 23 horas e 15 minutos estou banzado. Uma volta ao Campo Santana e zero putas à vista. Muito cedo? Coincidência? Fauna em extinção na zona? Noite de quarta-feira a explicar tudo?
Não faço ideia. Antigamente, havia ali muitas putas. Que será feito delas?
Finalmente, o jardim está como deve ser e já não há tapumes. Um quarteto de moradores joga à bisca numa mesa do jardim, um jovem passeia um Golden Retriever que não me liga nenhuma, uma puta duma aranha pôs uma teia no meu caminho e obrigou-me a tirar os fios do rosto. Bem, está na vida dela, coitada, calculo que lhe fosse mais agradável outra forma de sobrevivência. A outra da Gulbenkian fazia tricot por hobby, a Aranha é por motivos de sobrevivência. Há que respeitar.
A estátua do Dr. Sousa Martins está cercada por centenas de placas de pedra com agradecimentos. Há uma espécie de pequeno santuário muito cuidado, com velas acesas. Há quatro ou cinco senhoras que aproveitam a noite amena para cavaquear nos bancos à volta da estátua.
Decido não regressar em demanda de putas ao Campo Santana. Ou há ou não há. Eu podia muito bem ter ido ao cinema ver o “Gangue dos Tubarões”. Ou ter ficado em casa a ver a “Frida” na televisão. Não há putas, tudo bem.
Vou pela Columbano Bordalo Pinheiro abaixo e começo a deparar com fantásticos nomes de pensões e residenciais: Aleluia (rés-do-chão), Lucky (no 1º andar, mesma entrada da Aleluia), Santana. Depois um restaurante com bom aspecto: D. Luciano.
Sigo por ali abaixo e dá-me para espreitar um snack-bar com mesas de snooker (três), mesmo ao lado do “Elefante Branco”. Ninguém está a jogar snooker. Os computadores com jogos também estão vazios. Uma menina que podia ter saído de um filme de Godard fica por ali meia-hora a fumar e a rabiscar coisas num caderninhos. Um grupo de três jovens conversa sobre as aulas. Pedi um carioca de limão, um licor Beirão e uma água.


23h37m

O porteiro do “Elefante Branco” espreita pela primeira vez.
A televisão mais próxima da saída está ligada na MCM: “Face à la mer, je suis près de toi...”. E depois falava de lágrimas, desilusões amorosas e toma lá fresquinho, embrulhado para a juventude.


00h04m

A miúda gira sai da sala, sem se dignar lançar-me um olhar de lascívia ou comiseração. Aproveito para ler em A BOLA (ainda faltava ler um bocadinho) o resultado dos sorteios para as competições europeias. Os meus “leõezinhos” vão levar com os “leões” do Sochaux, o Newcastle, o Panonios e o Dínamo de Tbilissi. Na pior das hipóteses são quatro derrotas. O que é isso para a gente?


00h20m

Venho para a porta, mesmo ao lado do “Elefante Branco”. Fico por ali um bocado a ouvir as conversas dos taxistas que têm os carros estacionados em frente, à disposição das senhoritas que saem com os clientes. Dizem eles que o movimento está fraco. Mesmo assim há um certo ritmo. Há muito tempo que não entro no “Elefante Branco”. Já lá assisti a um amigo meu a oferecer livros de poesia às meninas. E a irmã dele (licenciada em Filosofia) a questioná-las, filosoficamente, sobre a vida que levavam.
Passado um bocadinho, dois espanhóis saem com duas brasileiras. Penso que são duas brasileiras, mas falam espanhol. Um deles puxa a loura pelo braço e rapidamente decidem o plano de ataque, mesmo ao meu lado. Ele quer passar a noite com ela. Ela fica espantada, mas satisfeita. Ele oferece 200 euros e diz que é o preço em Espanha. Se não é assim, é parecido. Estou perto, mas não ouço tudo. O certo é que chegam a acordo por 300 euros e ela ainda diz:
— Mas estou em exames. Quero um presente.
(Deve ser é parva. Um gato persa custa 450 euros e é para a vida toda).
O espanhol tem muita piada. Pode já ter bebido uns copos, mas não é tudo por causa disso. É um tipo giro. Abraça a loura e dá-lhe uma palmadinha amigável no rabo, antes de entrar para o táxi.
O outro espanhol tem um aspecto físico muito diferente. Veste fato e gravata, é elegante. Poderia ser um bandido mexicano ou um alto quadro da Caixa-Geral de Depósitos. Está com uma morena de fazer parar o trânsito. Espera que o amigo acabe de fazer a festa, deite os foguetes, apanhe as canas e faça moinhos.


00h35m
Uma noite cara demais.

A propósito de fazer parar o trânsito, saibam os leitores (as) que há dois tipos de classes a frequentar o “Elefante Branco”: os habitués que saem de uma grande “bomba”, dão a chave ao “vallet” e entram no clube com um sorriso de quem está bem na vida; os novatos e os estrangeiros que arrumam o carro onde calha e às vezes têm surpresas.
Dois amigos saem com uma brasileira loirinha, bem lançada, jovem e muito apetitosa. Um tem pinta de nhónhinhas, o outro não. O nhónhinhas fica com a brasilieira. O amigo vai buscar o carro ao fim da esquina.
“Surpresa!”. E não era a Daniella Cicarrelli outra vez.
E à Polícia Municipal não se pode responder: “Ó Daniela, agora não dá”.
Pois. O senhor tinha o carro multado. Desci um bocadinho no quarteirão e fui lá ouver (ver e ouvir, como diz o José Duarte do jazz) o que se passava. O diálogo estava correctíssimo. O senhor polícia (impecavelmente fardado), numa voz de mel, explicava que ia buscar o P.O.E (se não é isto é parecido) para que o senhor pagasse logo. Ou então depois chegava-lhe a multa pelas vias normais. E era uma agente loira (grande “brasa”, até as agentes da Polícia Municipal são giras, para as bandas do “Elefante Branco”) que tratava da papelada.
Volto para cima. Reparo que a menina brasileira tem um aparelho nos dentes. Fico muito satisfeito com a descoberta. Primeiro: não há discriminação no local de trabalho. Com ou sem aparelho, está em condições de trabalhar. Eu andei 8 anos com aparelho (dos 10 aos 18) e isso fortaleceu-me o carácter. Além de me ter provocado várias hemorragias labiais, quando levava uma bolada a jogar futebol ou uma cabeçada de um basquetebolista adversário que se levantava de repente quando eu o estava a marcar.
Questão importante: eu não fiz sexo oral a ninguém, enquanto tinha aparelho. Quais os riscos que correm os clientes? É que um homem não é de pau.
Apanho um resto de frase à menina, que falava com o nhónhinhas: “São mais 7, porque é mais flexível...”.
Poderia tentar interpretar a frase, mas abstenho-me. Ao invés, deixo um poema do meu livro “De boas erecções está o Inferno cheio”: Se vou às putas/nunca me venho/não se deve gozar/com quem trabalha.
Volto ao meu poiso, ao lado do “Elefante Branco”. Espreito as camisas da pequena loja ao lado. Bom material.
Em frente, do outro lado da rua, há meninas bonitas a passar, com clientes pela mão. Mas não são meninas do “Elefante Branco”. São meninas oriundas de outras paragens, embora próximas: Av. Duque de Loulé. Andam à procura de uma porta verde, mas baralham-se, porque há 3 ou 4 portas verdes todas iguais. Lembro aos mais distraídos que “Behind the green door” é um dos grande clássicos do porno, com Marilyn Chambers. Passou na cinemateca e teve lotação esgotada. Vi em VHS e achei uma seca psicadélica. O mesmo não posso dizer da Chambers.
Atrás da porta verde, em frente do “Elefante Branco”, o que se passa? Pedro Abrunhosa responderia com o título de um dos seus temas mais famosos.
Por mim, dava de solex até casa. Mas quis ver (no interesse dos leitores e leitoras, que eu não tenho a cronometragem por hobby) quanto tempo levavam as meninas a sair com os clientes: à volta de 45 minutos/1 hora.
Lá saí atrás de um parzinho. Ela deixou o módulo na esquina, com um beijinho; e entrou num clube da Duque de Loulé. Como diria o reverendo Teodoro Marques da Silva, nas suas belíssimas prelecções televisivas: “E a vida continua”.
Atrás de mim, grande confusão. Um homem batia com a porta do automóvel. “Mau”, pensei, queres ver que vai haver estalo? Ou, como dizia a malta na Escola Preparatória Eugénio dos Santos: “Porrada, pera, molho e batatada”.
Não houve porrada. Pelo menos entre pessoas, que o senhor deu porrada no próprio carro. Estava sem gasolina. Tinha de ir até às Amoreiras resolver a situação. Alguém tinha de o desenrascar. Eu não podia fazer nada e regressei a casa. A noite estava magnífica. Acabei por entrar no Galeto. Sabe-se como são as tertúlias no Galeto. Só acabam porque tem de ser. Venho para casa. São agora 5h19m. Vou-me ficar por aqui. Um dia destes há mais diário.
(Ei, pá, 79 mil e 173 caracteres... por este andar acabo o diário no final do mês).

Ah! é verdade, já me esquecia: antes de ir para o Galeto dei uma volta ao Técnico, para ver se também não havia putas, como no Campo Santana. Foi uma volta rápida, sem reparar em nada, só a contar: 24 putas, sendo que cinco são auto-putas habituais, ao lado da estátua do Tó-Zé. As outras 19 encontravam-se de pé, pelas 2 da matina. A miúda da camisola à Feyenoord estava um bocado desconfiada com um carro cheio de três galfarros e não sabia muito bem se havia de ir ou não. Quanto a mim, correu tudo bem. O meu olho clínico diz-me que eram grunhos bem-intencionados.
Este é o diário da noite em que fiquei a saber a diferença de preços entre uma puta de luxo do “Elefante Branco” e um gato persa da loja do Apolo 70.

terça-feira, janeiro 02, 2007

5 de Outubro de 2004, 16 horas

Aí vou eu para o Sporting-FC Porto

Saio de casa pelas 16 horas. Hoje é um dia grande. Vou assistir à estreia dos meus “leões” na I Divisão de hóquei em patins, frente ao FC Porto, campeão em título. Há nove anos que o Sporting andava arredado destas vidas. Uma longa travessia do deserto, portanto. Como fui assistir à final da II Divisão, frente à Académica de Espinho, já sabia onde é o pavilhão da Escola Secundária da Parede. O jogo começava às 18 horas.
Passei pela estátua do António José de Almeida e pisquei-lhe o olho. O 5 de Outubro também é um dia especial para ele. “Surpresa”. Pois, não foi a Daniella Cicarelli que me apareceu à porta a lamber um chupa-chupa. É que às 16 horas de um dia feriado andava uma puta a atacar no Técnico! Por acaso uma miúda gira e novinha, toda de preto. Na esquina estava um tipo parado, encostado a um gradeamento. Podia ser um chulo, mas o pormenor de ter um saquinho vermelho ao ombro descredibiliza um pouco a teoria.
Apanho o Metro até ao Cais do Sodré e depois entro para o comboio das 16 e 40 horas, rumo à Parede. Passo os olhos pelas “gordas” do PÚBLICO e de A BOLA, mas não consigo ficar a ler por muito tempo. Este 5 de Outubro está um autêntico dia de Verão e o Tejo brilha. Há anos, na Cruz Quebrada, saiu-me um pequeno poema: “Almas são pequenos barcos fundeados no cais do entardecer”.


19h35m

Saio do pavilhão da Escola Secundária da Parede. O Sporting perdeu por 4-2, depois de ter recuperado por duas vezes das desvantagens de 0-1 e 1-2. O jogo foi equilibrado e assinalou o regresso de Filipe Gaidão à competição, depois do acidente de que foi vítima numa piscina.
A mulher de Gaidão, Paxi, está num camarote perto de mim, a apoiar o Filipe. Aquilo estava cheio de mulheres bonitas e os fotógrafos aproveitaram para fazer o gosto ao dedo. O futebolista Sá Pinto também foi dar apoio moral ao Filipe, a quem chamou de careca várias vezes. O Gaidão está agora com uma carecada parecida com as do Pedro Gil e do Reinaldo Ventura. O FC Porto está a ficar muito “cabriolet”.


Se não fosse o jantar da Tertúlia BD de Lisboa, tinha ficado para assistir ao encontro feminino entre a Escola Secundária Fernando Lopes Graça e o Sesimbra. Perguntei a uma jogadora de onde era a Escola Secundária Fernando Lopes Graça. Ela olhou para mim espantada: “É de aqui”. Pois é. Eu conhecia apenas o pavilhão como sendo o da Parede. Peço desculpa ao maestro. Na saída do pavilhão estava o calendário das miúdas e fiquei a saber que tinham levado 7-3 das Lobinhos, a 25 de Setembro, no Torneio de Abertura.
Quando chego à estação já é de noite. Um puto apoiante do Sporting está ao lado da máquina automática e pergunta-me se lhe posso dar 20 cêntimos para o bilhete. Digo que não e dou-lhe 50 cêntimos. Ele ficou tão espantado que nem agradeceu. O outro ao lado riu-se e cravou-me mais 20 cêntimos.
Afasto-me. Vou para o outro extremo da estação. Não há dúvida de que a líbido dos jovens está a funcionar em pleno e de que os telemóveis vieram para ficar. Um casal de namorados está sentado nos bancos. Ele está de telemóvel encostado ao ouvido e vai aproveitando para beijar gananciosamente a namorada enquanto o seu interlocutor fala.
— Não te preocupes. Já tenho quem me leve a casa. Não vou chegar tarde.
Como já é de noite, regresso a ler os jornais. Tomo o metro, para sair na Avenida. O jantar da Tertúlia é no Parque Mayer, como habitualmente. Na carruagem, um grupo de miúdos e miúdas adolescentes não se inibe de se apalpar e beijar à vista de todos. Há cenas de empurrões e carolos entre o grupo de amigos. Há segredinhos entre as miúdas e também há rapazes a fazer números de ginástica em suspensão, agarrados às argolas.


21h14m

Chego à Tertúlia. Opto por comer pataniscas com arroz de legumes. Não me sai nada no sorteio das rifas. Compro dois BD Press (uma recolha dos artigos sobre BD publicados durante o mês, com uma impressão do blog www.kuentro.weblog.pt em anexo) ao Jorge Machado-Dias.
Depois, um grupo de 12 foliões vai até ao bar Foxtrot, para tertuliar mais um bocado. O capitão do grupo é o fundador da Tertúlia, o Geraldes Lino. A novidade é a presença do escritor Luís Filipe Silva, grande entusiasta de BD e de ficção científica. Já somos amigos desde os tempos do DN-Jovem. Aproveitámos para falar da distinção ao fundador do suplemento, o grande Manuel Dias, que foi condecorado pelo PR, pelas 19 horas. Fala-se em combinar um jantar de homenagem ao Manel, que é um gajo tímido e não gosta destas coisas. Penso que ainda vou publicar este livro primeiro. Já sei como são estes processos em Portugal.


No Foxtrot confirmo que a líbido do pessoal está mesmo em alta. Um quarteto já trintão está todo enrodilhado num sofá. Atenção, não estão em altos “linguados”, mas elas estão ao colo deles, todas encostadas. E não havia necessidade. Não faltava espaço e conforto. Eu sei muito bem. Já estive muitas vezes sentado no sofá.
No nosso grupo, a Isabel destacou-se pela coragem em “meter conversa” com a ave azul e amarela que está de plantão no seu poleiro. A arara branca que não se calava durante os jogos de matraquilhos já faz parte do passado. Tirando a menina do grupo, ninguém mais quis ir fazer festas à emplumada figura, cujo bico colocava algumas reticências a um contacto físico mais efectivo. Mas o bichano estava bem disposto e recolhia os salgadinhos com a pata, para os saborear convenientemente. Na gaiola do lado, o melro seguia a cena com toda a atenção. Fui lá assobiar um bocado e acho que ele ficou satisfeito. Pelo menos ouviu-me atentamente. Talvez me tenha insultado em melronês corrente, mas eu não sei nada disso.
Venho para casa de boleia com o António, como habitualmente. Ele está a considerar a hipótese de se deslocar a Madrid propositadamente para um concerto de uma banda de que nunca tinha ouvido falar. Nem fixei o nome. Mas era um nome giro e esquisito. Para o mês que vem há mais. Ficou no ar a hipótese de se ir ao cinema assistir à “Catwoman”, em comando especial da Tertúlia dos Bedéfilos Cinéfilos, uma subtertúlia criada pelo Geraldes Lino, com a missão de “papar” filmes inspirados pela BD.